22 novembro 2006

com relação à concepção de autoria entre os pós-modernos e o viés tomado pelo perspectivismo;
penso que um ponto de partida é a divertida perspectiva proposta por latour de desconstrução do modelo moderno que possui tradição no empirismo ocidental, tributário do racionalismo humanista que foi primorosamente comentado por clastres, aliás um mestre na concepção de autoria pré-pós-moderna ou anti-pós-moderna;
o centro desse debate aberto acima é a imagem de sujeito sustentada pelos pensadores citados (pós-modernos e outros);
a proposta de desconstrução da imagem do sujeito foi levada a cabo por uma linha de pensadores que se situam na questão pela perspectiva filosófica: o que me interessa nessa perspectiva é que ela desconstrói o conceito de sujeito, levando de roldão o sujeito de conhecimento, ponto estratégico do texto de seeger-viveiros de castro;
enquanto nos situamos numa perspectiva de conhecimento que mantém os pressupostos do discurso científico moderno, enquanto não se faz uma retomada da imagem do sujeito que esse conhecimento e essa ciência pressupõem, estaremos debatendo o conteúdo sem debater a forma, e o pior, sem perceber que forma e conteúdo não se diferenciam;
nesse oco é que penso estar situado o problema político da forma e do código;
quando se coloca o interlocutor na confecção do produto, quando se especializa ele ou se abre a linguagem do texto para o seu código (ex. fala, grafite, música, ...ou mesmo se foco discursivo) propõe-se uma experiência de autoria coletiva na qual se problematiza a forma, se coloca o interlocutor como produtor de conhecimento, coloca-o pra falar, aliás isso não deve ser a conseqüência, pois o propósito do trabalho é projetar os interlocutores para virem a público exercitar seu discurso, colocar seu saber em função da criação de novos direitos, de novos pontos de vista sobre o interlocutor e sua comunidade;
o objetivo disso é retirar o antropólogo de ocupar o lugar de fala do interlocutor, problema esse que começa no texto (aliás, para muitos pós-modernos começa e termina no texto) e segue nas práticas do antropólogo, em seu trabalho;
é difícil para o antropólogo sair dessa tribuna que ele começa a construir com sua monografia e prossegue em sua fala, em seu discurso cotidiano;
o exercício que se propõe é redefinir com esse exercício a própria concepção de sujeito, já vai pra mais de cem anos que o freud popularizou o inconsciente e até hoje nós nos amarramos à mesma concepção de sujeito de há cem ou duzentos anos atrás;
nosso sujeito ainda é um instrumento que foi adaptado a última vez pelo modelo do panóptico e pela sociedade de controle, são poucas as experiências de proposição de novas subjetividades, propostas de subjetividades libertárias, que coloquem em questão os modelos que estamos a reproduzir, que estamos a reificar;
fui hoje ao evento da cpi: encontrei com a malta dos estudiosos da diferença, uma febre de pesquisadores e projeteiros que deve abafar o trabalho tão interessante que insurgia em alguns lugares do brasil com vistas a promover a autonomia de pensamento de alguns grupos por parte desses próprios grupos;
depois de toda aquela pieguice etnocêntrica do respeito à diferença, respeito às outras culturas, vamos lá;
o interessante é que eles fazem exatamente as perguntas proibidas, pra não falar estúpidas, e eu lucro com isso, pois sei onde a coisa pega, onde eles são barrados no modelo de pensamento, que imagem eles fazem do sujeito e do conhecimento (do homem ocidental, cidadão de direito, falante do português, urbano, como sujeito de conhecimento);


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