
como balanço pessoal dos temas debatidos no último encontro do grupo de estudos em antropologia simétrica, 18_09, passa-se agora à retomá-los;
o texto estudado, que serviu de intercessor ao debate, foi o panoptismo, extrato do livro vigiar e punir de michel foucault;
deu-se início com a tentativa de situar a texto na obra do autor; as obras mais importantes que o precedem são as palavras e as coisas, de 1966, e a arqueologia do saber, de 1969, sendo o texto em debate de 1975;
o ponto inicial quanto a essa contextualização consiste na constatação de que, nas obras anteriores, o autor está voltado para a definição do problema epistemológico, as palavras e as coisas, e à constituição de uma teoria dos enunciados, a arqueologia;
portanto, traça-se um quadro no qual a obra se concentra no problema discursivo, no qual a ordem do discurso predomina no texto e o organiza;
vigiar e punir, a partir desse contexto, marca uma inflexão no sentido de traçar um plano que é colocado como extensão do universo dos enunciados, o diagrama disciplinar;
não há uma relação de determinação, ainda que haja uma implicação entre tais instâncias;
ambas possuem a natureza do modelo, o que o afasta de determinar os enunciados a partir de um campo histórico-transcendental e vice-versa;
a questão é que o autor vai colocar sua teoria dos enunciados para operar como instrumento de poder, os enunciados implicam produção de realidade, não representam referentes transcendentes, pois agem na imanência;
colocou-se que o problema do poder-potência deve ser aprofundado conceitualmente, buscando sua genealogia;
esse movimento, a grosso modo, visa dissipar a distinção interioridade/exterioridade, conduzindo para as concepções de exterioridade e dobra, centrais no pensamento último do autor;
é essa operação que é caracterizada na passagem do arquivo para o diagrama: enquanto a primeira ainda guardava uma dimensão interior, a segunda realiza o texto como pura exterioridade (klossowiski);
este movimento implica destituir a imagem tradicional do pensamento modelado pela metafísica, de grande influência no século vinte, especialmente sobre a fenomenologia, no qual persiste a bidimensionalidade interior/exterior, corpo/alma, significante/significado, natureza/cultura;
a importância deste debate se evidencia, pois projeta a obra de michel foucault para um lugar central e precursor no campo da antropologia simétrica;
se já é vigiar e punir que propõe um método e uma metodologia para problematizar o caráter político da teoria dos enunciados, para operar a desconstrução discursiva das ciências humanas, arqueologizando os discursos soterrados sob seus escombros;
certo que aqui se refere ao problema conforme abordado por bruno latour e voltar-se-á a tal numa comparação aprofundada;
assim, este se apresenta, com certa liberdade, como o segundo tópico do debate: em que medida contribuirá foucault à antropologia simétrica?
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