28 setembro 2006

o problema é o seguinte, ou seja, a questão foi colocada nos seguintes termos: há uma passagem em alice em que se realiza um julgamento, num processo um tanto autoritário, para julgar o valete de copas do desaparecimento de um bolo;
nesse momento aparece uma carta sem endereço, a qual é ignorada; alice exige que ela seja lida; o coelho pega a carta, submisso e medroso e pergunta ao rei se pode lê-lo, com o assentimento, pergunta então: e por onde eu começo, ao que o rei: ora, comece pelo começo;
esse foi o ponto de partida para o nosso debate metodológico sobre a história; comece pelo começo... qual seria o começo: uma boa proposta: o começo se define pelo fim e o fim somos nós (aliás, esse é o princípio da genealogia);
os personagens da narrativa histórica: o rei, autoritário; o coelho, submisso; alice: o olhar sobre a narrativa histórica;
começo, meio e fim em aristóteles; a narrativa conforme a poética;
daí, passou-se ao dezoito de brumário de marx, na ruptura com a narrativa factual positivista, marx parte de hegel para chegar às revoluções que antecedem o século dezenove demonstrando como essas revoluções estão inspiradas no passado;
sua proposta e conclusão: inverter a inspiração no passado por uma inspiração no futuro: que os mortos enterrem seus mortos;
passando a hanna arendt: o fim de uma tradição: propõe a seguinte crítica a marx, que não teria virado hegel de cabeça pra baixo tanto assim;
marx pressupõe conceitos da tradição que ele pretende inverter, ficando, assim prisioneiro da tradição ao restar no campo da história, preso a uma obra no campo das palavras;
para ela no século vinte, com os totalitarismos, encontrava-se um fim à tradição humanista sustentada pelo pensamento liberal; a ruptura com a tradição se deve ao fato de o século vinte apresentar a essa tradição um fato que seria insustentável;
hanna arendt, como judia, colocava o holocausto como ponto de inflexão da história; seu discurso seria a experiência viva desse processo;

o que se coloca em questão em relação a condução desse fio narrativo da mithistória?
partindo de um texto interessante, a origem da tragédia, ou melhor, a concepção do trágico, concebemos esse processo como ponto de partida para uma reformulação do pensamento do século dezenove: o processo genealógico, segundo o começo se define pelo fim e o fim somos nós, entendendo nós como o lugar de enunciação e a voz do enunciador;
foucault é aquele que enuncia tal proposta de reformulação do pensamento do século dezenove, denominando-o pensamento histórico transcendental do século dezenove no texto o que é um autor?;
foucault ainda diz que supõe que seu leitor saiba do que se trata tal reformulação (pode até ser que seja a mesma crítica de hanna arendt a marx em seu aprisionamento na tradição);
no entanto, não teria hanna arendt ficado igualmente presa à tradição ao não colocar o problema metodológico e discursivo da estrutura textual, da configuração enunciativa em jogo, (problema que justamente seria aquele incansavelmente trabalhado pela micropolítica de foucault e de todo o pensamento estruturalista francês do século vinte?);
não seria esse o propósito de interpretarmos as vozes dos personagens de um texto tão problemático em termos de enunciação quanto o é alice, como vozes hipotéticas que regem o discurso histórico, vozes conflituosas em que se desmembra o poder da micropolítica, poder como ação, poder como jogo de forças;
ao não desdobrar o seu texto, especialidade do estruturalismo, retomando a tradição do século dezenove do procedimento hipotético-indutivo do empirismo positivista, a concepção de representação que sustenta a distinção entre texto e referente em seu método, é certo que hanna arendt se mantém presa à tradição que pretende extiguir
a partir daí, como sustentar a crítica de hanna arendt, justificando sua ruptura com tal tradição ao falar em nome das vítimas do holocausto, ao se apropriar de um processo histórico num gesto de totalitarismo discursivo?;
o que não se pode é justificar que foucault não teria levado a cabo tal reformulação por seguir inserido nessa tradição, junto com marx, após ter falado em nome das minorias sociais e sexuais, num evidente exercício de preconceito;
não se pode justificar que hanna arendt, por ser mulher e judia seria a visão de dentro do processo em oposição a uma visão de fora;
não se pode considerar a fala de alice, uma menina, com a fala de lewis carrol, um homem inglês (o texto de foucault citado foi justamente o que é um autor?);
nosso ponto de aprtida não tinha sido o jogo mithohistórico de analisar a narrativa de alice com suas vozes?;
não teria hanna arendt assumido a perspectiva do rei?;


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