06 setembro 2006


as experiências formais no plano verbal proporcionadas pelo estruturalismo modificam o trato dos materiais com que lida a antropologia, seus objetos conceituais;
o fascínio pelo referente, segundo lévi-strauss, condicionava o exotismo na etnologia, pois a construção do objeto que não se voltasse para o próprio processo tendia a criar um outro a partir do mesmo;
esse outro acabava por ser mais um reflexo dos pressupostos do que o homem ocidental acreditava ser, o que pensava de si próprio, do a proposta de um percurso filosófico para a circunscrição de seu próprio conhecimento em relação a outros sistemas;
a onipotência e onipresença do homem e do pensamento ocidental resultavam numa refração em seu espelho;
quando pensava estar fixo sobre o outro – mais fixo do que nunca – o sujeito ocidental não podia enxergar que o que fixava era sua própria objetividade;
era com tal objetividade obsessiva que ele forjava essa imagem de outro que acabava por conduzir à imagem de si, de sua própria percepção, de seu próprio modelo de mundo, de seu conhecimento;
nesse momento, voltar-se sobre os processos, num discurso metalingüístico, foi uma revolução, pois a consciência da linguagem revelou a função reacionária das construções positivas, cuja fórmula era: + neutralidade = + ciência = - política
um tal universo que visa a ciência como saber universal, como espelho e reinscrição da natureza, obstina-se na busca e definição do referente em detrimento da pesquisa da natureza discursiva de sua linguagem;
ou seja, o discurso tecnicista e cientificista se propõe abolir a antiga conjunção entre ética e política, dada a natureza positiva, isto é, referenciada pela moral e os costumes, desse pensamento;


a conquista da antropologia estruturalista foi voltar-se para a linguagem, rompendo com a história, tomando a via da genealogia – o grande livro da antropologia é a genealogia da moral – e sua consciência textual, na qual o texto não se aliena no referente ao cair na obsessão de uma objetividade cega;
o método histórico, que tem por princípio a dialética que conduz a transformação, acaba por ser indissociável de certo universo evolucionista que o pariu, o qual, por sua vez, está inscrito e circunscrito no campo da convergência – configuração de uma cultura universal – que a ciência ocidental herdou de seu progenitor, o monoteísmo judaico;
a genealogia propõe a inserção radical do processo, o texto como processo dentro do processo que descreve;
o texto é devir, não se destaca do fluxo de seus enunciados, da construção de seu referente, não destaca os planos referência/referente e, por extensão, antropólogo/nativo;
não distingue esses planos e sim, os reflete, o que lhe proporciona séries de experimentos de linguagem pouco decifráveis ainda hoje, visto que esses experimentos estão inscritos em caracteres do plano formal e muitos dos nossos olhos ainda estão acostumados a buscar no texto estritamente – e até com certo pudor – seu conteúdo informativo;

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