20 junho 2006

quando a própria técnica é colocada em questão; quando se propõe que o interlocutor pode ele, por sua distância da técnica, recriar uma técnica outra, coloca-se em questão a eficácia simbólica do técnico, o técnico, aquele que sabe fazer e se opõe ao que não sabe, deve encarar uma outra concepção de verdade;
a verdade está nos olhos de quem vê e sente o mundo; essa experiência pode redefinir a técnica;
o valor sobre uma técnica universal, válida para a colocação de todos os problemas, de todas as perspectivas tem sido arduamente posta abaixo pela arte, pela literatura, pelo teatro, pelo cinema...
tal concepção de uma técnica padronizada, do bom português e seus ares parnasianos, tem sua gênese na concepção de verdade que sustenta, e é sustentada, pelo pensamento moderno, pautado no progresso e evolução, de que resultamos, nós ocidentais racionais;
seu recorte do mundo visa o homem médio, a voz média, as experiências medíocres; a reprodução do mundo pelos olhos do homem médio, para que todos (se identifiquem) com esta voz se identifiquem e a reproduzam;
proliferar vozes, enfoques, pontos de vista, não é meramente questão de conteúdo; é estritamente um problema formal;
descentralizar a técnica e a voz média em seu caráter moral: o bom português, a boa técnica, a boa montagem, o bom som: os recursos naturalistas ou de verossimilhança, tornam-se recursos expressivos significativos: estilo;
o bom filme pode não ser o holiwoodiano que não apresenta um estilo, mas possui uma técnica impecável, e sim aquele que, ainda que não seja impecável técnicamente, propõe uma linguagem, um hilemorfismo, um contato entre sua realidade e a obra que se projeta, um diálogo entre sua linguagem e outras obras, outros estilos, alguma metalinguagem, alguma proposta, e reflita alguma consciência de si;
quando a ciência se percebe discurso, produção de sentidos, quando se abre para o caráter poético da linguagem, seu caráter construtivista, quando suspende por um breve momento, revolucionário instante, a linha que separa/divide, o muro que separa, ciência e arte, liberta-se da maldição do espelho, na qual o outro é sempre reflexo de si, na qual só se tem olhos para si e, por isso, não se pode ter consciência de si;
o homem ilhado do século XIX, seguramente poupado dos devires por sua concepção de verdade, por sua crença na Verdade, tem na antropologia se ápice e seu crepúsculo;
no momento, no impulso em que cria a ciência do outro, toca o objeto sem fundo, encontra o caminho de volta a si;

Visitor Map
Create your own visitor map!