29 junho 2006

operando a dinâmica da produção temos a favor o arsenal antropológico; como os produzidos olham sua matriz, sua máquina-mãe, sua progenitora cibernética?
onde encontramos os olhares que se voltam a essa máquina: não consciências políticas que se libertaram do processo de alienação, e sim recortes perceptivos comuns a todos que fermentam neste útero;
nessas trocas de olhares nessas entre-vistas, que buscamos nosso material; construindo e amarrando, costurando, articulando as experiências desses sujeitos;
como os processos de homogeneização são vivenciados por esses singulares?

acompanhamos a formação da voz média, a voz da maioria, a voz do consenso que todos encarnamos quando se fala a voz da razão;
essa voz se caracteriza como a voz da maioria, daqueles que estão no poder por sua própria natureza consensual; como sabemos é uma voz bastante valorizada na cultura e na história brasileira, a voz do consenso que encarna o imaginário da ordem;
as outras vozes se constituem em tensão com o poder instituído e quando aparecem são sempre olhadas com aquele olhar de canto de olho, estigmatizada como voz da diferença em meio ao consenso estabelecido;
no âmbito da forma sujeito, sem saber bem ao certo o seu sentido, surgindo mesmo como incógnita em meio aos programas de vigilância ou, mesmo, já resultado seu, tem-se os territórios sendo por vezes invadido;
enfim, essa é minha introdução para o primeiro fenômeno a ser abordado: a produção de carolina maria de jesus;
como a escrita é material tradicional da antropologia, a obra da escritora vem à calhar; além do mais, seu caráter descritivo, que nos constrói uma etnografia, é outro elemento que nos aproxima dessa obra;
esse olhar, sensível por que retrata espiritualmente sua realidade, se caracteriza por sua liberdade, por voltar-se para a matriz formadora desses sujeitos, por configurar os próprios processos em que esses sujeitos são produzidos: há aqui um curto-circuito entre processo e produto;
tais processos, ao serem trazidos para o circuito da cultura, da voz média, só deixam entrever ecos de seu universo subterrâneo;
a secura com que narra a narradora reflete sobre o sapato apertado da forma-sujeito; isso que consideramos como um fato simples, não é tão certo quando se tem que comer lixo, e assim o olhar muda, o tom de voz se transforma;
o trabalho desbravado por essa criação tem sido hoje explorado em trabalhos como cidade de deus e falcão, meninos do tráfico;

a impossibilidade de dissociar vida e escritura chega a lembrar o teatro da crueldade vivido por pixote, o ator de babenco, o filme de hirshman sobre nelson cavaquinho, ou a música de cartola;
a partir daí, busca-se conduzir a antropologia para os processos de criação coletiva, de domínio público, que escapam à forma do autor, explorando a diversidade de materiais e de regimes enunciativos disponibilizados pela cultura popular;


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