23 junho 2006


blog _ poética do fragmentário
há aproximadamente dez anos, compunha um trabalho para a disciplina de teoria literária; estava começando a ler nietzsche e descobria então os recursos do estilo fragmentado dos aforismas;
estávamos estudando, então, a forma do diário, mais especificamente em marques rebelo;
o texto que passei a estudar foi o observador do escritório, diário de carlos drummond de andrade;
a partir de alguns trechos, em que o autor se refere ao seu estilo fragmentado de composição, fiz uma releitura da teoria do romance de bakhtin, em que o monológico estilo compactado e discursivo do romance e seu narrador resulta na polifonia fragmentada dos monossilábicos resmungos dos personagens;
apoiava-me ainda no leitor contemporâneo de calvino, da prosa leve resultante de nossas narrativas cada vez mais rápidas e obtusas, das narrativas policiais, do cinema com sua narrativa elíptica conduzindo a narrativa literária, enfim, toda a transformação por que passara nossa percepção e de que forma a escrita do diário desde os ensaios de montaigne até os contos de edgar alan poe tinham-na assimilado;
o resultado não foi bem apreciado. minha nota foi sete;
não mais esqueci as teses desse trabalho e quando me ocorreu escrever sobre o formato blog, a criação literária e a pesquisa, lembrei-me novamente da poesia diária de drummond em sua articulação entre vida e escrita;
de certa forma, esta lógica do fragmento esteve presente igualmente em minha pesquisa, os recortes vão constituindo um percurso, o qual vai sendo reconhecido a medida que é traçado;
além disso, esta forma cultiva o prazer da escrita e o da inspiração; a cada momento que se estuda determinado autor e texto, define-se o que dele mais importa, extrai-se o sumo;
dessa forma, vão-se articulando percurso em campo e percurso teórico; o texto vai ganhando a forma dinâmica do devir, do aprender, constituindo-se em rizoma;
com isso, redefine-se a constituição linear e progressiva, cuja dinâmica é a da forma acabada do texto; diferentemente, o que se tem aqui é um texto composto na dinâmica da intertextualidade, pois o texto, de partida, já assume sua natureza textual;
dissolve-se concomitantemente, assim, o apelo referencial do empirismo, pois o texto não se propõe comprovar algum referente, por estar voltado para sua natureza textual, campo do qual deve dar conta;

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