29 junho 2006


apreender que o que constitui a antropologia é a abordagem e não o tema; qualquer tema pode ser abordado do viés antropológico;
como vimos, o que caracteriza a antropologia é estar no mesmo nível epistemológico do objeto, sem desnível; essa é a primeira simetria que define já a antropologia desde as teorias nativas;
acompanhamos o processo de formação das instituições modernas de vigilância e punição que instauram processos de constituição de subjetividades que levam à homogeneização (direito, educação, saúde) ao elaborar a forma sujeito que conduz a individualização característica do capitalismo;
nossos métodos de pesquisa (exame) foram elaborados no interior desse universo mental institucional, estadista, cujo intuito é o de controlar os contingentes urbanos, liberando-os, cada vez mais, para agirem com maior complexidade, o que vai permitindo a adaptação das instituições a essa maior complexidade de variantes;
sim, o discurso positivo afirma mais liberdades individuais e mesmo se podem ver tais liberdades, o que não se pode enxergar é o que está velado exatamente na superfície dessas liberdades; sim, os direitos se constituem e democratizam, o que serve uma complexidade cada vez maior das instituições jurídicas; a educação se torna um direito, o que a faz obrigatória e faz de todos dependentes das instituições que oferecem o serviço; o serviço de saúde serve às massas urbanas, que se tornam dependentes desse modelo de saúde, descartando qualquer outra possibilidade de tratamento para restarem nas filas a espera de atendimento;
são discursos eficazes que exigiram ouvidos que lhes fossem moldados;
todo esse processo de constituição desses saberes, de instauração desses discursos se dá no universo da representação, que comunga com a tradição metafísica pré-moderna/pré-capitalista;
a constituição de nossa forma sujeito, nosso processo de individuação ocidental se configura a partir da matriz antropológica da representação;
no entanto, tais processos em si, já se constituem como processos de produção, no caso, de subjetividades;
o que é dado possui uma eficácia simbólica tal que todos nos acreditamos de fato sujeitos individualizados, seres desnaturalizados pela cultura;
os processos de construção de pessoas, de formação de sujeitos vão se caracterizando como dispositivos de controle, como máquinas de vigilância e modelagem;
processos e produtos: parece que tais instâncias não se separam, parece haver uma continuidade entre os processos e os produtos;
parece ser aí que entra a antropologia; num primeiro momento para reafirmar essa distinção entre sujeitos criados e criação de sujeitos, entre dado e produção;
configura-se então num discurso, num saber cuja valoração se torna evidente; a antropologia observa aqui a forma sujeito de nossa teoria política, generalizando-o/a;
esse outro disforme é apresentado como caricatura, não tem voz, não tem vez; são anômalos não identificáveis em nossas categorias, são não-sujeitos, afirmados, ainda, apenas, em sua negatividade;pode ser que a antropologia só se formule, em sua especificidade, quando os tais processos - sujeitos produzidos e produção de sujeitos - são colocados em contato, quando os fios descascados se tocam e se faz o curto-circuito;


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