16 junho 2006


antropologias simétricas

qual o nosso objetivo prático ao estudar antropologia simétrica: ter consciência discursiva do teor político do viés antropológico imanente ao texto, à pesquisa;
todo discurso está centrado na voz média; é ela seu modelo, seu padrão, a voz que agenciamos em nosso cotidiano por conta de nossos papéis sociais;
quando se pratica o discurso acadêmico, estamos num campo em que predomina essencialmente a voz média;
a ciência se constitui em uma prática política por sua relação com a voz média, com o discurso positivo do poder, do dominante, da maioria;
assim, torna-se tema delicado envolver outras vozes no discurso acadêmico, convidar esses outros eus para trafegar nesse campo minado do etnocentrismo;
ao se propor a escrever – ou a devir – sobre a experiência de menores prostitutas, os anjos da noite, a pesquisadora assume o risco da dissimetria entre o discurso acadêmico do pesquisador, eivado da voz média da ciência do homem branco ocidental;
o caráter antropológico, especificamente da antropologia simétrica, consiste em converter o discurso acadêmico, deslocá-lo de sua unilateralidade, de fazê-lo devir na experiência daquele a quem o canal está sendo aberto;
nisso consiste a tarefa do agenciamento, fundamental para compreender a antropologia, principalmente a antropologia simétrica;
quando definimos a antropologia por este ad-vocar, por esse falar a voz alheia, enfim, por esse conjunto de recursos discursivos, enunciativos e narrativos que permitem a articulação das perspectivas envolvidas na pesquisa e, principalmente, no texto;
toda dimensão discursiva explorada pela antropologia tem como objetivo, fundamentalmente, dar conta da voz média;
dar conta desse narrador etnocêntrico que, ao distinguir ciência e política, método e problema, objetividade e subjetividade, ao neutralizar a abordagem antropológica, criar automaticamente o híbrido: o texto etnocêntrico, o intensificador de poder;
quanto mais força fazermos para sermos objetivos e separarmos ciência e política, mais as misturamos, criando o texto “puro”, “livre de interpretações”;


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