02 maio 2006



a questão do método etnológico, problematizada numa revolução copernicana pela obra de Lévi-Strauss, instaura uma dobra da antropologia sobre seu próprio corpo;
esse pensador desloca o arsenal positivista de problemas de sociologia indígena, característico do funcionalismo, para propor um método pautado na forma, método cujo objetivo era romper com tal tradição metodológica, redefinindo tanto a abordagem como o problema da antropologia;
ao deslocar o princípio do método da sociologia indígena para o pensamento selvagem, o autor propõe automaticamente seu procedimento, visto que o problema passa a situar-se sobre o eixo saber/poder, ao reconhecer um sistema de produção de saber/poder do lado de lá, no pensamento selvagem;
assim, o problema da etnologia muda de natureza: instaura-se/define-se um método próprio à etnologia; o problema tem agora natureza epistêmica e política e tal redefinição coloca a disciplina numa crise;
essa crise faz a disciplina voltar-se para si, para seu corpo, para sua composição, para seus métodos, seus recursos de composição;
essa ruptura ecoa em distantes paragens: ao propor o princípio de imanência, na ruptura com a tradição histórico-transcendental, como princípio do método etnológico, o autor instaura uma linha de fuga a um impasse do pensamento moderno;
o autor inverte a proeminência essência/aparência via pensamento selvagem: a imago do xamã como contracientista redefine o a relação entre mundo e conhecimento: as linguagens criam realidades;
dar status de pensamento ao pensamento selvagem é uma operação que exige uma contradefinição de ciência; tal contradefinição não pode ter a mesma natureza que sua definição positiva: o problema se constitui no eixo saber/poder;
não se busca mais, assim, explicar a sociedade indígena, a cosmologia indígena, com os métodos ocidentais - crítica ao totemismo - a operação é antropologizar o próprio pensamento, utilizando-se para isso do pensamento selvagem;
o eixo gravitacional se desloca do suposto e constatado “mundo do nativo” para as linguagens como produtoras de sentido;
as linguagens, os sistemas de produção de verdades (saber) têm poder político de instaurar realidades; o conhecimento científico - tanto instrumento político, quanto produto epistêmico - é problematizado em sua dimensão política;
a ciência resulta de uma divinização da imagem do mesmo, do self do civilizado, aquele que tem poder/saber de definir a verdadeira realidade;
essa mesma onipotência da ciência resulta de um fenômeno de linguagem, da instauração reafirmada de uma série de procedimentos de produção de verdades, de uma apropriação de tais procedimentos e seu emprego num despotismo político;
tais procedimentos fornecem a imagem do homem ocidental: bárbaro é aquele que crê na barbárie: o moralista;
esse homem natural, essa subjetividade dada, esse modelo de um si-mesmo é o produto principal desse maquinário: de tanto lidar com monstros, ele acaba por se tornar o pior deles;
a ciência pode ser pensada como seu subproduto, ela exige uma imagem formada do sujeito;
foto fonte: eduardo viveiros de castro: arco e flecha araweté
foto-fonte: eduardo viveiros de castro: arco e flecha araweté

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