02 maio 2006


o problema da naturalização da moral é nosso ponto de partida; de que forma nos inserimos em padrões morais que estão instituídos e nos adaptamos a eles, nos acostumamos a tais valores como se fossem necessários, como se fossem naturais;
colocar este problema, eis uma baliza em nosso pensamento; propor uma genealogia da moral como fundamento do discurso filosófico tem o mérito de dobrar o discurso sobre si mesmo, de fazer com que ele se volte a sua estrutura, ao seu material, ao seu nível de imbricamento com tais valores, enfim, a uma reflexão metodológica, melhor diria, uma experiência metodológica cuja cobaia é o próprio cientista, ou seja o próprio método;
o nome que se dá aqui a essa dobra é dobra sobre a imanência ou volta sobre o próprio corpo;
aqui os corpos e os sujeitos, os corpos enquanto inscrição de sujeitos, enquanto criação de subjetividades, são material semiótico na constituição de linguagens, de códigos que servem para ordenar, para legislar a sociedade;
lege, ler, lei: o que se lê através das leis, nas entrelinhas do discurso positivo de ordenação da sociedade: o suplício nos coloca diante de uma pletora de discursos inscritos no corpo, vê-se o corpo como um espaço de inscrição que é desdobrado em outra superfície: o papel;
a lei é ler, toda leitura traz em si uma lei: mas onde está escrito isso?
o sentido dado e o sentido criado: eis a grande ruptura de tal método; o discurso cinetífico se fundamenta na neutralidade, na averiguação, na descrição, na constatação;
a criação de sentido é vista como enganação, pois os únicos procedimentos válidos para constituição de verdades trabalham com o sentido dado, de forma que o cientista vai buscar o sentido que está dado na natureza por meio de procedimentos neutros, de métodos objetivos: o sentido é, assim, extrínseco ao texto;
o sentido vindo de fora do texto: este modelo tem uma ascendência que remonta à certa filosofia grega, acentua-se no pensamento escolástico e encontra vazão na era moderna via discurso político-científico das Luzes;
esse modelo epistêmico fundamenta e é fundamentado por uma imagem de homem, uma imagem do sujeito; essa imagem do sujeito é constituída no âmbito de uma história e de uma cultura, as quais, por sua vez, implicam-se por essa imagem do homem;
esse pensamento, cujo sentido é extrínseco ao texto, é evidenciado em seu histrionismo, em seus excessos, com o cientificismo e moralismo, marcados pela instrumentalização política da ciência que foi batizada de positivismo;
sua imagem de um homem civilizado e superior, dominador das forças naturais, homem da responsabilidade e da compaixão, é desmontada para análise; o que se constata é uma oficina em que processam subjetividades, em que se forjam almas;
fonte imagem: rublev gabriel

Visitor Map
Create your own visitor map!