23 maio 2006

o espelho
a música consiste no elemento paradigmático do saber indígena; é a música que fornece a melhor imagem do pensamento; seu caráter sensível, sua criação coletiva, seus recursos enunciativos nos conduzem a um processo de criação que possibilita a dissolução do autor que já buscávamos com os recursos literários;
a imagem da antropologia, quando esta se dobra sobre o seu corpo e pode olhar-se a si mesma é a imagem do ad-vocatus, aquele que ocupa a perspectiva alheia, aquele que agencia a voz alheia;
essa atitude de ocupar a perspectiva alheia, no entanto, é o próprio princípio do xamanismo;
o que se encontra como sede do xamanismo é uma extensa quantidade de recursos que consistem em fornecer a perspectiva outra;
essa perspectiva outra pode ser a do animal de poder, a de um espírito que pode se deslocar a grandes distâncias, a do espírito do inimigo; neste sistema, os recursos disponibilizados pelo sonho tem uma importância fundamental;
assim, a imagem do xamã e o conhecimento produzido por ele fornecem a forma que tomará o modelo de conhecimento a ser reformulado pela antropologia;
portanto, não se trata estritamente de reconhecer o conhecimento indígena em sua especificidade; o problema é que reconhecer esse conhecimento equivale a reformular automaticamente todo o modelo e toda a estrutura que funda a nossa epistéme;

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