23 maio 2006

o espelho II
romper com a epistéme do sec. XIX consiste em romper com essa imagem do homem isolado, do homem sem outro; o personagem conceitual que se situa nessa zona é robinson crusoé e suas experiências de um mundo sem outrem, em que sua personalidade conhece um processo de diluição;
em nossa literatura se conhece igualmente um personagem cuja potência está em definir tal dinâmica; esse personagem é o alferes de o espelho de machado de assis; nesse conto o autor, que tem no campo da literatura psicológica seus maiores casos, ou melhor, clássicos, vide o alienista, cria um universo para situar a dissolução do alferes, identificado à sua farda, na fazenda deserta, abandonada, sem nenhum outro que sustente sua imagem de alferes; é aí que sua imagem ou sua alma se dissolve diante do espelho;
os recursos que constituem essa epistéme, esse modelo de conhecimento, caracterizam-se por encaminharem um discurso monológico; talvez sejam as artes e a literatura que elaboraram os recursos principais que irão permitir a reformulação do pensamento;
a polifonia na literatura abre uma perspectiva sobre os recursos enunciativos e sobre seu papel central numa outra imagem da literatura, das artes, do pensamento;
no teatro a contribuição do teatro épico do séc. XIX com autores como ibsen e tchekov, no qual se rompe com a perspectiva unificada sobre os acontecimentos, os personagens constituem perspectivas distintas, recortes diferenciados sobre o mundo;
romper com tal epistéme do séc XIX é redefinir o nosso pensamento e nossa linguagem; redefinir uma série de ilusões constituídas por essa imagem do mundo e do conhecimento elaborada nessa epistéme;
romper com a dinâmica linear e progressiva escamoteada em nossa sensibilidade pela história é uma das tarefas dessa reforma do pensamento; toda instituição de uma sensibilidade, uma moral, uma percepção de matriz metafísica está pautada num gênesis e num apocalipse;
romper com essa linearidade progressiva que, segundo foucault, nos parece evidente é uma de nossas tarefas, reformular assim a imagem da história com que nos identificamos a ponto de acredita-lo a própria essência da realidade;

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