06 abril 2006


dobra corporal


um problema exemplar é o da construção do corpo nas sociedades indígenas; nossa concepção da natureza natural do corpo não abre espaço para enxergarmos os processos (xamânicos) da eficácia simbólica; busca-se de pronto, justificá-lo pela crença, (não vendo nessa atitude o próprio reflexo de nossa própria crença) (individual ou) coletiva, pela fé (individual); com essa atitude, não damos autonomia a esse campo de significação, sua instituições seus fenômenos devem se submeter ao nosso campo de significação, que cremos ser o único possível ou, pelo menos, legítimo; buscamos, portanto, interpretá-lo a partir de nosso próprio campo de significação, o único válido para uma explicação racional e científica das coisas e processos; isso demonstra, de forma cabal, como giramos em torno do eixo do referente: o estruturalismo nos convida à ruptura com essa forma da verdade, utilizando como modelo metodológico o xamanismo via eficácia simbólica;
o processo da verdade: a verdade como processo, é definida no processo do jovem feiticeiro: o feiticeiro e “sua” magia; a própria magia define-se como propriedade do feiticeiro, como sua, desvincula-se de um lugar coletivo transcendente; opera, certo, segundo regras inconscientes, no entanto, ou melhor, portanto, é o próprio inconsciente que vai integrar a aparência, o “parecer”; rompe-se assim com o inconsciente enquanto espaço, lugar, região, integra-se à sua natureza intensiva, gradiente, processual, do devir imperceptível, de campo intensivo de liminaridade em que se processa o sentido;
a noção de verdade implicada no método estruturalista busca romper, dessa forma, com a tradição metafísica do século XIX; ao invés de buscar comprovar a realidade, averiguá-la, testificá-la e reafirmá-la, o xamanismo (a antropologia) se dobra sobre os processos de construção de realidades, de configuração de verdades, cujos recursos constituem seu próprio corpo;
justificar a realidade, fixá-la em discursos, reificar a percepção, fazer de um meio um fim; o xamanismo, a invés, fornece à antropologia um modelo (formal) na construção de verdades: a eficácia simbólica;
a eficácia simbólica circunscreve o campo de significação, denunciando o uso que a “tradição histórico-transcendental” faz de seu campo de significação: tomado como universal, de meio passa a ser um fim para as demais culturas;
a eficácia simbólica nos volta para o estudo dos procedimentos de instauração de verdades, de realidades; desnaturaliza os procedimentos da ciência positiva ao circunscrever seu campo de significação;a eficácia simbólica conduzirá todo o processo do pensamento selvagem; o pensamento selvagem tornar-se-á, então, o modelo metodológico, a instauração desse campo de significação outro, em que o xamanismo opera como um sistema capaz de inscrever a antropologia numa outra chave; o debate sobre o totemismo conduz a esta chave;

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