07 abril 2006


bricolage II
há mais, porém: e aqui se dá a dobra que introduz, preparada pela distinção temporal, a agência: a poesia do bricolage lhe advém (...) de que ele “fala” através das coisas;
a partir da concepção da agência, a ”coisa” da etnologia passa a definir-se por sua natureza discursiva;
essa operação tem caráter fundante no discurso antropológico, é ato inaugural no método etnológico; essa operação é de caráter epistêmico e epistemológico: redefine nosso universo de significação, nossa epistême, e também a forma de pensá-la, de concebê-la;
é nesse plano epistêmico se dá uma conversão decisiva: o pensamento selvagem é objeto de pensamento, mas também é máquina de pensar: a natureza desse novo objeto se distingue de qualquer outro objeto anterior: a natureza desse novo objeto, por distinguir-se da natureza de qualquer outro objeto já pensado, redefine assim nosso próprio pensamento;
ao agenciar esse pensamento selvagem a antropologia antropologiza o próprio pensamento que a produziu e produz; ela abre seu corpo para que penetrem nele elementos estranhos ao pensamento que a forjou; atualiza em seu corpo o problema político do qual resulta (colonização);
ao dobrar-se sobre si, sobre seus processos de produção, de análise, sobre seus pressupostos, a antropologia alcança a linha de fuga que arrasta todo o ocidente;
o uso estratégico dos processos simbólicos de construção de realidades se proliferam; seu emprego como dispositivos fazem da sociedade moderna um laboratório na elaboração de instrumentos de controle e disciplina perceptivos;
o materialismo da era industrial que produz a abordagem histórico-transcendental do século XIX dá lugar à leveza de uma era em que o universo virtual comanda aquilo que vai ou não ser atualizado;
neste horizonte, a dimensão virtual invade o real e concentra tal potência, que o redefine definitivamente; o deslocamento do centro decisório para o universo virtual redefine o problema do desejo;
a produção do desejo está vinculada a constituição de subjetividades via percepção;
o laboratório perceptivo da modernidade tem por fim aperfeiçoar a produção de desejos;
o processo da eficácia simbólica, que redefine o lugar do antropólogo na produção do saber, prenuncia uma outra revolução;
buscou-se abordar, em escritos anteriores, como tal operação estava esboçada nas dobras da eficácia simbólica;

Visitor Map
Create your own visitor map!