30 novembro 2010

AUTORETRATO

Considerad, muchachos,
este gabán de fraile mendicante:
soy profesor en un liceo obscuro,
ha perdido la voz haciendo clases.
(Después de todo o nada
hago cuarenta hora semanales).
?Qué les dice mi cara abofeteada?,
!verdad que inspira lástima mirarme!
Y qué les sugieren estos zapatos de cura
que envejecieron sin arte ni parte.

En materia de ojos, a tres metros
no reconozco ni a mi propia madre.
?Qué me sucede? - !Nada!
Me los he arruinado haciendo classes:
la mala luz, el sol,
la venenosa luna miserable.
Y todo !para qué!
Para ganar un pan imperdonable
duro como la cara del burgués
y con olor y con sabor a sangre.
!Para qué hemos nacido como hombre
si nos dan una muerte de animales!

Por el exceso de trabajo, a veces
veo formas extrañas en el aire,
oigo carreras locas,
risas, conversaciones criminales.
Observad estas manos
y estas mejillas blancas de cadáver,
estos escasos pelos que me quedan.
!Estas negras arrugas infernales!
Sin embargo yo fui tal como ustedes,
joven, lleno de bellos ideales,
soñé fundiendo el cobre
y limando las caras del diamante:
aquí me tienen hoy
detrás de este mesón incorfortable
embrutecido por el sonsonete
de las quinientas horas semanales.

(Extraído de Poemas para combatir la calvicie. Antologia organizada por Julio Ortega. 6a. ed. Santiago: Fondo de Cultura Económica, 1999, p. 36-37.

17 novembro 2010

citações

“...proponho aqui que a corporalidade seja entendida também como um dos mecanismos centrais dos processos de aprendizagem e transmissão de conhecimentos, habilidades, técnicas e concepções próprias à educação das crianças índias...”
“... Movimento, ação, sentidos, plástica e emoção combinam-se como ‘técnicas’ ao mesmo tempo cognitivas e formadoras, em contextos sociais que vão desde as atividades corriqueiras da vida cotidiana até os momentos festivos dos grandes rituais estruturados simbolicamente. Essa articulação é construída menos por afirmações verbais que de recursos musicais, dramáticos, gestuais, artísticos nos quais a ornamentação corporal freqüentemente traduz informações relevantes para a situação da criança no mundo e na vida social.” (Lopes da Silva, 2001:40)

16 novembro 2010

citações


Não é nos grandes bosques nem nas veredas que a filosofia se elabora, mas nas cidades e nas ruas, inclusive no que há de mais factício nelas.
Deleuze, 1988b: 270

14 novembro 2010

citações

ao escrevermos, como evitar que escrevamos sobre aquilo que não sabemos ou que sabemos mal? é necessariamente neste ponto que imaginamos ter algo a dizer; só escrevemos na extremidade de nosso próprio saber, nessa ponta extrema que separa nosso saber e nossa ignorância e que transforma um no outro; é só deste modo que somos determinados a escrever; suprir a ignorância é transferir a escrita para depois ou, antes, torná-la impossível; talvez tenhamos aí, entre a escrita e a ignorância, uma relação ainda mais ameaçadora que a relação geralmente apontada entre a escrita e a morte, entre a escrita e o silêncio; falamos, pois, de ciência, mas de uma maneira que, infelizmente, sentimos não ser científica;
(deleuze, 1988:18)

o problema da identidade: antes que um conceito fixo, firme, uma rocha ou uma ilha continental, a identidade é uma noção problemática, um barco no meio de uma tempestade, ou antes e ainda, uma canoa furada;
o que quero dizer? que num texto de reflexão que se proponha ir além do senso comum, deverá ser questionada, criticada e desconstruída; precisamos tratar da impossibilidade de se falar de identidade como coisa, essência para podermos participar de seus processos de constituição;
antes de se referir a algo, nossa arte passa a se concentrar em participar de algo; isto pois a identidade é identificação, produção de subjetividade; a identidade que se constitui enquanto objeto consiste numa forma, numa espécie de processo de subjetivação, da classe dos processos de subjetivação conservadores ou opressores;
o processo de subjetivação enquanto prática, isto é, utilizado como contra-identidade, e com o propósito de desconstruir esse lugar e esse discurso de verdades que o intelectual encarna, consiste num processo anárquico e revolucionário, voltado para a sátira e a desconstrução da subjetivação utilizada para o controle como experimentamos nos mass media e no consumismo;
por isso, por essa distinção nos processos subjetivos, que toma como ponto de inflexão estudos (foucault, deleuze e guattari) do poder e do controle, que se poderá falar de uma ecologia subjetiva, num esforço de articulação de campos de saber diversos como antropologia, psicologia, história, política entre outros, todos esses saberes tomados numa perspectiva contra-institucional, isto é, a partir de uma leitura crítica e ativa das articulações de saber/poder, em que se busca redefinir o lugar do pensador e do pensamento através de um olhar crítico para as instituições e os profissionais do saber em suas relações com o estado e as corporações;      
o texto (e o autor) não vê as identidades através de lunetas ou microscópios, ele participa em seus processos de constituição;
para tanto, começamos por tratar o conceito e o próprio texto que o refere de uma perspectiva dinâmica, simulando os movimentos, surfando nas ondas dos processos;
não se trata de referir-se ao movimento, pois podemos faze-lo estando imóvel; trata-se de realizar o movimento: no texto, enquanto texto, na forma do texto;
para tanto, nos servirá uma conversão no plano da forma mais que do conteúdo; trata-se de observarmos o que fazemos enquanto falamos, de onde falamos e quais as implicações de nossas afirmações;
em nosso caso, não podemos ficar indiferentes ao fato de estarmos lidando com registros distintos, ambos trazidos para o plano verbal; como articular ver e falar no plano do falar? vc se utiliza bem das imagens e as articula com o texto, mas essa articulação é ainda precária, dependente do verbal? como radicalizar e propor     
para tanto, uma de suas dimensões fundamentais é a relação enunciação/enunciado: quem diz  e quem disse o que quem diz; essa relação pode ter desdobramentos complexos, de acordo com a intensidade/capacidade (de rendimento) antropológica do 'texto';
no texto, os personagens ou vozes passam a valer por suas vozes, por sua relação com a narrativa e por seu rendimento nessa relação narrador-narrado;
não se trata de fundar a autoridade na palavra alheia, porém, na qualidade antropológica da relação entre narrador (voz de referência) e demais vozes;
por essa qualidade antropológica do texto que nossa concepção de autoria passa a parecer ou se mostrar tão problemática; e também por que o conceito de intertextualidade ganha centralidade na apropriação das técnicas de produção discursivas contemporânea;
por exemplo, o livro os milton, na medida em que é centrado nos relatos e em sua narração proporciona uma variada gama de recursos enunciativos, de técnicas citacionais; um variado espectro de afetos atravessam a voz do narrador quando este transpõe na sua voz os ditos de seus interlocutores;
também diversas são as técnicas narrativas, muitas antigos recursos literários, para suprimir a presença desse narrador e nos dar a impressão, isto é, criar o efeito de que estamos ouvindo as palavras originais, diretamente da boca dessas fontes;
as mil e uma noites, a bíblia, o gita, dom quixote e também a música e o cinema nos põem cotidianamente com esse jogo de perspectivas ;
podemos pensar: já é tão comum essa orquestração de vozes em nosso cotidiano que seus padrões e suas palavras de ordem já foram naturalizados;
no entanto, trata-se também dessa ordem (do discurso) nos ser escamoteada; estamos constantemente em contato com ela, nos servirmos dela para ocuparmos o espaço social que ocupamos: professores, jornalistas, gerentes, vendedores, radialistas, enfermeiros, mães, pastores, compositores e por aí vai, mas ela nos escapa; o poder e a opressão é sempre alheio a nossas ações; somos sempre vítimas do poder por que não “nos vemos” manipulando-o;      

outros textos insuspeitos guardam um rico potencial antropológico na medida em que apresentam uma riqueza de recursos enunciativos, de desdobramentos citacionais;
textos literários, etnografias, e também textos audiovisuais, em que intencionalidades muitas vezes mais sutis assumem o enunciado e a enunciação associados e definidos a partir de sua configuração literária;
bakhtin escreve sobre as diferentes eras do enunciado de outrem, as diferentes formas com que o discurso de outrem, e portanto, o discurso do mesmo, do narrador, igualmente, foi tratado numa certa “história da literatura”; 

o caráter de trova da música também interessa na medida que esta arte teria a propriedade de preservar, ou melhor, de atualizar os recursos citacionais mais populares, veiculados na linguagem popular cotidiana;
seja no campo semântico do amor, do comércio, da boemia entre outros a música capta e reconstrói esse espaço entre as falas; 
cont...