24 abril 2010

fernando stankuns_sangrando
árvores sangrando na usp

discursos


com efeito, arma-se uma situação terrível: o conhecimento tecnocientífico acumulado sobre a floresta e sobre sua destruição não parece ter força para influir nos rumos do desenvolvimento predatório levado a cabo pelos civilizados;


laymert garcia dos santos
foto fernando stankuns
árvores sangrando (na usp)

nós queremos contar tudo isso para os brancos, mas eles não escutam;
eles são outra gente, e não entendem;
eu acho que eles não querem prestar atenção;
eles pensam: "esta gente está simplesmente mentindo";
é assim que eles pensam; mas nós não mentimos; eles não sabem dessas coisas;
é por isso que eles pensam assim...

davi yanomami

22 abril 2010

minorias (olho d'água, 2009, 28 min.)






o vídeo minorias resulta da oficina de gênero e raça do protejo/ceflora de cruzeiro do sul em 2009

07 abril 2010

canto puyanawa (olho d'água, 2009, 32 min.)

agora sim as três partes do vídeo canto puyanawa, realizado em novembro de 2009;



href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CCliente%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtml1%5C01%5Cclip_filelist.xml">

trata-se antes de escapar do que de enquadrar, conscientizar, incluir, normalizar;

o regime contra o qual escrevemos é o regime do controle, das sociedades de controle;

o consumo, uma sociedade capitalista, consiste numa complexa relação entre desejo, liberdade e tirania;

estado e capitalismo não se diferenciam nessa sua herança dos regimes religiosos de controle moral;

conforme deleuze em seu texto sobre as sociedades de controle, são elas que seguem as sociedades de disciplina a partir das quais foucault deduziu os regimes discursivos com que saber e poder interagem e se indiferenciam;

usamos os discursos, operamos a linguagem, mas também somos subjetivados nessa utilização, nos constituímos nessa operação;

quando estamos operando com os discursos, temos duas posturas basicamente;

deleuze define duas formas de lidar com o plano: plano de transcendência e plano de imanência;

a relação com o plano é que define a relação com a linguagem enquanto plano de imanência (da obra, da subjetividade, do universo, de tantas multiplicidades que se abrem com a criação de conceitos, perceptos e/ou afectos);

no plano de transcendência somos ultrapassados pelo discurso, na medida que se trata de um discurso que refere sem ser referido;

já o plano de imanência consiste num plano que não se oculta, que à medida que explicita, é explicitado;

nas artes do século vinte, essa quebra com a representação que marca o plano de transcendência consiste no gesto de comprometimento político mais profundo da arte;

a arte sacrifica seu próprio corpo a medida que se separa da comunicação e da publicidade;

vimos isso nas linhas de fuga que vão irremediavelmente exilando marcel duchamp;

essa ruptura toma diversas formas: desde a diluição das imagens impressionistas até a ruptura da tela, as instalações e os parangolés;

o teatro não só desce do palco como mergulha no absurdo;

como escreve haroldo de campos nas galáxias: escrever sobre escrever é o futuro do escrever;

o mesmo se dá com a música, com as artes plásticas, com o teatro;

emergir a linguagem da linguagem (plano de imanência, dobra);

trata-se de uma dobra ou de múltiplas dobras sobre o plano de imanência, segundo a materialidade de cada expressão;

as próprias linhas que dividem as artes são suspensas;

todo esse movimento de dobra sobre a linguagem, de expressar o plano de imanência inerente ao processo artístico consiste na natureza própria da arte, em sua natureza selvagem;

a arte não é a obra, não consiste no produto;

a aura, o mana da expressão artística atravessa o corpo da obra;

e não se faz obra sem o percurso da linguagem em corpo, em a perspectiva que o corpo torna possível;

não se captura os devires pois eles atravessam entre os blocos de subjetividade;

como refere joão cabral, esse devir que move ou que consiste na expressão artística é faca só lâmina;

não está disponível para o consumidor pois consiste num limite;

a esse limite cabe nos levar além;

não se trata de definir uma política de estado para nossos alunos;

trata-se de deixar pistas, vestígios, de que eles podem escapar de nossos discursos, dos discursos oficiais, de nossas doutrinas;

não se trata de compreender finalmente o que necessitam nossos alunos, isso já se tornou um habitus que nos foi incutido pela publicidade que se espalha por todos os discursos desde o da mãe, passando pelo do padre, o do professor, do patrão, da esposa etc;

todos buscando uma satisfação cada vez mais longe por querer agarrar algo que não está disponível;

quão infeliz isso nos faz;

trata-se de criar a partir das linhas de fuga, ao invés de nos fixarmos em discursos que nos conduzem a subjetividades moldadas, prontas para serem consumidas, fast food;

daí a dificuldade de se falar sobre o que seja política, arte e educação;

a política, a arte ou a educação podem ser perspectivas antes de serem discursos (objetos de);

fazer de qualquer dessas perspectivas um plano de transcendência consiste em operar a neutralização dessa natureza selvagem libertária que antes implica do que corrobora com explicações;

não se trata de falar de arte, a arte mesmo é avessa explicações, exposições etc;

daí o crítico como o antípoda do artista;

e daí a necessidade de uma contínua reinvenção da crítica;

uma crítica poética, uma crítica como pesquisa e experiência de linguagem, de recriação, de sampler;