29 novembro 2007

ciência régia e pensamento selvagem

de fato, levi-strauss coloca o problema humanista de um pensamento selvagem com direito à história;

a etnologia não assume então o perigo que consiste/apresenta à história;

não assume seu sentido epistemológico de desmoronar o discurso histórico transcendental, cuja ruína proporcionada pela crítica lingüística ao representacionismo foi sua própria possibilidade de constituição;

escapa, assim, assumindo uma abordagem positivista que não se propõe a desconstruir ou genealogizar nossa episteme ou ciência régia;

porém, analisado numa maior amplitude, sua atitude corrobora um amansamento desse pensamento, por sua recusa de inverter a perspectiva, de manter a perspectiva da ciência régia, com suas etnografias que inclusive são utilizadas positivamente, reforçando sua abordagem positivista desse pensamento outro;

esse pensamento está configurado no interior de nosso pensamento, inicialmente por aquilo que é valorizado, como se só tivesse valor aquilo que se valoriza em nosso sistema de valoração;

tende assim a produzir a imagem do índio à imagem do cientista, em que o índio é pensado como cientista natural, como que prevendo a imagem que nossa conscientização histórica fez, a partir desse direito ao pensamento, do índio, constituindo-o, em seus projetos de emancipação, à imagem do cientista social;

você vê bem a diferença entre os dois tipos de proposições seguintes: 1) formas desenvolvem-se, sujeitos formam-se, em função de um plano que só pode ser inferido (plano de organização-desenvolvimento); 2) só há velocidades e lentidões entre elementos não-formados, e afectos entre potências não subjetivadas, em função de um plano que é necessariamente dado ao mesmo tempo que aquilo que ele dá (plano de consistência ou de composição);

1000platôs


dois planos se constituem;

um plano de organização ou desenvolvimento, plano que dá a perceber sem ser percebido;

outro plano de consistência ou composição, o próprio plano é percebido ao mesmo tempo que ele nos faz perceber o imperceptível;

relacionei os dois planos em minha dissertação para contrapor a escola à opy, escolarização à ritualidade;

no primeiro plano impera a identidade, o percebido se o faz enquanto formas (objetos) e subjetividades (sujeitos), enquanto o plano se oculta na concepção de um dado, de uma natureza transcendente;

para esse plano imaginei o saber escolar, mesmo (ou principalmente) da escola indígena, que reproduz ou atualiza a matriz ocidental;

o plano se dá no desdobramento da suposta realidade pré-determinada na representação do livro, da lousa, do discurso do professor que referem a essa realidade cristalizada;

esse plano se oculta na explicação do professor, em que se oculta o caráter de produção de realidade;

no outro plano, plano de consistência ou composição, as formas e sujeitos são idéias, idéias que não funcionam, pois o que serve é a diferença;

são os intervalos, os entre-cortes, os tempos e as lembranças suprimidas, os equívocos e as besteiras, a cotidianidade e a hecceidade que a perpassa e faz dela uma experiência do universo, mim como tudo aquilo que me envolve;

são só velocidades e lentidões, onde praticamente só as imagens da música nos aproximam;

aqui imaginei o saber constituído na opy, espaço-tempo ritual do canto-dança guarani;

prática ritual que arrasta e dissipa as formas e os sujeitos, que dissipa contornos, mistura corpos e incorporais, fragmenta subjetividades, dissipa unidades atravessando partículas;

o plano aqui não se desdobra e sim é dado enquanto dá a conhecer;

transvaloração 2

a não ser na ilusão dos positivistas, iluministas e outros civilizadores das luzes, o conhecimento não consiste em conhecimento em si, conhecimento pelo conhecimento;

em contraste, o xamanismo vai ao limite de não só constituir-se como diplomacia interétnica, mas como sistema de relações interespecíficas;

isso ainda para justificar o lugar de uma análise do discurso, e mais especificamente nos campos que nos interessam;

em sua alquimia com o judaico-cristianismo, esse pensamento consiste no programa unificador da ordem do mundo própria do estado;

o estado se define como a configuração, em termos de poder, desse regime discursivo que justifica um instrumento de análise denominado análise do discurso;

a análise do discurso possui sua matriz, seus precedentes, no programa de uma transvaloração que remonta à nietzsche;

esse programa enfoca uma crítica radical dos valores e pressupostos em que está assentada a tradição científica ocidental, denunciando seu comprometimento profundo e as funções que desempenha na configuração do estado e de seus aparelhos de captura, tal como o aparato jurídico;

essa imagem contrasta (e ataca) imagem da transparência e da neutralidade com que a ciência a partir de seus mitos constrói sua imagem de si mesma;

por se voltar à ordem interna do discurso (langue), buscar seus pressupostos e desvinculá-lo da sua ordem externa (representação), ou melhor, por estabelecer novos vínculos entre ordens internas e externas, conceber (outras) formas de apropriação e intencionalidade dos discursos, por desviar a atenção voltada exclusivamente para o que esses discursos dizem, voltando-nos, agora sim, para sua ação, essa análise do discurso nos conduz a um método que problematizará a história e, portanto, o método histórico, principal matriz de pensamento crítico do século vinte;

o argumento será esse vínculo que a história mantém com a realidade transcendente dos fatos, essa imaginação representacional que a vincula à tradição que ela visa criticar;

o que se dá aqui é uma crítica e uma contraposição dialética que sustenta o mesmo sistema que visa criticar;

no entanto, essa perspectiva, ainda que contraposta, legitima esse mesmo sistema, visto que não se busca levá-lo às últimas conseqüências;

aqui se propõe tomar como referência, a partir da dialética, do outro lado da história, a história que foi ocultada pelo poder hegemônico;

não se põe em questão a eficácia da história ou seus pressupostos no âmbito da tradição do conhecimento ocidental;

a história consiste aqui na forma de se fazer justiça, de contar a história na perspectiva dos fracos;

o método consiste na inversão de perspectivas históricas, sem problematizar em que consiste a história, de que forma ela foi apropriada como instrumento de poder, o que faz dela um instrumento de intensificação de poder etc;

disso resulta um sem número de épicos inócuos, ou melhor, de épicos que vão constituir um mercado;

a noção de identidade será outra noção atrelada ao pensamento de estado que definirá um mercado no processo de aperfeiçoamento do discurso das massas, típico do estado nação, em discurso das identidades, configurando assim uma diversidade amansada, vistos que seus signos estão dispostos no mercado pra circulação, não constituindo mais movimentos sociais;

de fato o mercado das resistências constituído ao longo das décadas de militância marxista serviu para alguma coisa, para conformar um mercado da crítica ao capitalismo;

e assim o veneno foi assimilado pelo organismo capitalista, abrindo caminho para que se entenda o processo que se buscará operar com a tradição nietzscheana;

nietzsche inicia com a construção de um sentido de trágico que visa não só circunscrever, como estabelecer um programa estético que se desvincule dessa tradição teórica que pressupõe uma distinção entre ciência e literatura, que opera na chave da identidade, em busca de definições de categorias que se apóiem em características tomadas da realidade e não como produtoras de realidade, sentido assumido pela literatura;

a educação messiânica que o estado envia para civilizar os varadouros do mundo: não interessa tanto se ela responde aos interesses de organização desse ou daquele grupo, mas a uma crítica de o que significa aplicar nossa concepção de organização, com seus pressupostos de consciência, história, agência etc;

sem desconstruir os pressupostos de nossos conceitos messiânicos, sejam eles de corte civilizacional ou marxista, continuaremos a desdobrar e reproduzir nosso discurso colonizador, a integrar os outros e seus universo, sua cosmopraxis, suas ontologias à imagem de nosso progresso histórico;

a análise do discurso se dá a partir da necessidade (tão corrente e generalizada hoje que perde sua especificidade (até por ter se tornado um produto tradicional no mercado de discursos) de se voltar para o conhecimento ocidental, de voltar um olhar crítico sobre esse conhecimento, ou melhor, de considerar outros olhares sobre esse conhecimento;
considerar assim, a partir desses olhares deslocados, dessas outras perspectivas, as nossas formas de produção de conhecimento, seus valores e seus pressupostos, sua conformação, suas funções sociais nos diversos contextos, inclusive coloniais;

esse esforço se volta à desmontagem (genealogia) de uma tradição que remonta à grécia, ao judaísmo, chegando à exacerbação com o positivismo como cria do messianismo iluminista;
o caráter de absolutização, de generalização típico desse conhecimento, dessa cultura, dessa política, dessa tradição religiosa etc, constituem sua ciência, sua imagem do conhecimento como consciência absoluta de uma realidade capturada, de uma imagem consciente da realidade amansada pelo saber, pela apropriação, pelo conhecido, pelo fechamento a qualquer dúvida;
essa forma de ciência, seu modos de classificação e apropriação de realidades parecem voltar-se como justificando um fim em si mesmos, o saber pelo saber, um saber justificado pela melhor maneira de apreender o real, sem cogitar que o real consista numa instância relacional e a ontologia numa política e diplomacia entre sistemas de conhecimento;
veja, esta é a minha realidade, e a sua...
é de uma ingenuidade comprometedora pensar num conhecimento desvinculado de uma política externa da mesma forma que é uma ingenuidade pensar numa religião desvinculada de sua função de conquistar, de doutrinar, de colonizar, de amansar, de reduzir;
a ciência não será mais abordada na ordem do discurso a partir desse olhar interno e compromissado, esse olhar universalista que instaura o universalismo, como tendo um fim em si mesma;
a ciência se presta a inúmeras funções na constituição e manutenção do estado e cabe desmascarar tais funções para apreende-la;
a pergunta sobre a efetividade desse conhecimento já parte ela mesma desse desvínculo entre o conhecimento e sua função na constituição da unidade de poder que lhe investe poder e as referências enunciativas e perspectivas que assume;
aquém desse vínculo com a unidade de poder que referencializa esse saber, que lhe fornece uma perspectiva, esse discurso opera a partir da projeção de uma realidade transcendente (natureza) que o sustenta;
assim, a pergunta sobre a efetividade desse conhecimento em si é feita tomando como foco essa realidade referente, essa imagem do real;
a pergunta não volta o conhecimento para si, para o conhecimento enquanto sistema com ordem interno, com seu caráter constituinte de realidades;

o se falar em discurso não se trata do texto ou da fala em geral;
a noção de discurso possui um sentido estrito que se refere a sua concepção do sentido e dos valores;
certo que essa afirmação vaga não possui sentido genérico, não consiste numa definição (antes conduz uma operação) só faz sentido no contexto epistêmico ocidental, em nossa tradição epistemológica;
sendo essa tradição marcada por uma concepção da linguagem que vincula o enunciado ao referente antes que à enunciação, ao ato de produção de sentido;
essa concepção se afirma e prolifera tendo por princípio uma dimensão transcendente que apóia a rede de sentido;
é como se tudo se passasse fora da linguagem, nesse campo imaginado como pré-concebido na imaginação divina;
como se essa não tivesse poder de criação de valores, um instância passiva de caráter meramente representacional;

quando realizamos o curto-circuito de integrar essas duas instâncias, elas se revelam imaginárias, mas não irreais, sendo que definem ainda hoje nossa forma de conceber a realidade e o sentido;

ao suprimir o caráter de produção da linguagem e afirmar uma instância transcendente pré-concebida, uma configuração valorativa tomada como realidade, essa concepção assume seu caráter reacionário;

28 novembro 2007

daí a importância do mito como ordem autônoma a reivindicar a autoridade que havia sido atribuída por nossa ordem de estado à história;
o método histórico se configura a partir dessa autoridade, da história como aparelho de captura matriz;

como ao estruturalismo interessa a produção de sentido, as ontologias selvagens, parte-se rumo ao pensamento selvagem, primeiro pela via comparativa com o pensamento ocidental para desbaratar evolucionismos, reivindicar autonomia a esse pensamento que possui sua ordem interna, que produz realidades, que organiza mundos com suas relações de causalidade próprias;
os selvagens não vivem mais iludidos por suas superstições como se propôs pensar até então;
seu pensamento possui uma ordem própria que serve adequadamente para sua socialidade, sua cosmopraxis;
ganham autonomia de pensamento, pelo menos em um campo restrito (estruturalismo) de um campo restrito (antropologia) de nosso pensamento;
importante: isso se passa em nossa imaginação conceitual, pois politicamente é uma outra história;
daí a reconhecermos essas formas de saber em nossa cosmopraxis...

no entanto, nos restringemos às propostas que se desdobram do estruturalismo;
pensar a cosmopraxis indígena não apenas de nosso aparato científico, nossas metodologias rigorosas de descrição da realidade com suas cadeias de pressupostos arraigados em nossas mitologias;
no entanto, em lugar de uma psicanálise da ciências humanas, o que se propõe será justamente pensar em algo simétrico no pensamento selvagem;
será que a mitologia nos proporcionaria um método para o estudo desses pensamentos, dessas cosmologias, dessas cosmopraxis;
e assim perseguir os problemas que nos conduzirão por essas traduções, por esses devires, visto que essa simetrização sempre nos exige da imaginação uma espécie de refração, de adequação;

um problema interessante consiste no estabelecimento do protocólo de aproximação/apropriação de um pensamento por outro;
temos nos conduzido pela apropriação que faz clastres dos esquemas enunciativos que conduzem às máquinas de guerra, maneira de voltar as instituições indígenas contra certos aparelhos de nosso pensamento que tendem sutilmente a reproduzi-lo como onipotente, onipresente e, principalmente, onisciente;

passamos a nos apropriar aqui desse pensamento selvagem (como desdobramento de nossas apropriações do estruturalismo) de outra forma;
devir não é analogia nem imaginação, trata-se de uma questão-máquina;
o próprio devir aqui consiste numa máquina de guerra que define a ação do xamã, ação sem precedentes em nossa cosmopraxis, aliás, ação que compromete mesmo certos princípios fundamentais de nosso pensamento, o que a define mais uma vez como máquina de guerra;
não se trata de analogia como numa comparação inicial entre pensamentos selvagem e civilizado;
ao se romper com o horizonte em que vigora um pensamento da identidade e se assumir uma diferença radical, passa-se a buscar os princípios desse pensamento e não de imagina-lo a partir de nossos critérios, dos valores de nossa tradição;
mas de imaginarmo-nos segundo esses princípios outros, numa mudança de perspectiva que conduz ao xamanismo como contra-ciência;
a maior contribuição da lingüística saussureana de fato consiste na cisão definitiva dessa relação direta entre com o referente;
ela interpõe entre linguagem e referente a noção de signo, composto de significante, definida como imagem sonora a qual se relaciona à série do significado;
com isso ela passa a idar com a produção de sentido a partir da articulação dos eixos da linguagem, desvinculando a produção de sentido do universo dos referentes;
esse mundo dos referentes é levado mesmo muitas vezes a um limite de relativização, sendo considerado pela lingüística como produção cultural via linguagem, sendo que esta possibilitaria os recortes culturais;

portanto, a lingüística será responsável por essa cisão, cisão com a relação direta entre linguagem e referentes, investindo a linguagem de um poder criador, de uma natureza valorativa, de um caráter cultural, desmistificando com isso a idéia de uma linguagem transparente, despida de valores, natural;
dessa cisão é que se beneficiarão as ciências humanas que encontrarão aí a abertura para todos os tipo de ruptura com (e de crítica a) o método histórico;
o método histórico se caracteriza pela era pré-discursiva (sendo por isso mesmo o alvo central de toda e qualquer análise do discurso) por tomar por base a disciplina que talvez mais tenha tirado proveito do modelo representacionista, da concepção de linguagem e sentido que se coloca em relação direta com os referente, que pressupõem uma realidade pré-definida e, portanto, valorada de ante-mão;
essa suposta realidade é então tomada não como fim (a ser construído), mas como princípio;

contrário a isso, o que se tem a partir da abordagem lingüística será uma linguagem como puro valor, a despeito de todos os tipos de apropriação que a lingüística sofrerá posteriormente;

o estruturalismo e as propostas de linguagem com coerência interna, ordem autônoma;

uma disciplina como a antropologia que já não mais se conformavam ao modelo histórico vão conduzir essa abordagem a diversos desdobramentos com o estruturalismo;
a antropologia se posiciona assim como possibilidade de um pensamento imune à configuração pela ordem positiva, que pressupõe uma adequação entre a linguagem científica e a natureza, ou melhor, que admite tanto uma dimensão transcendente pura ou despida de valor, como a possibilidade de sua decifração;
sua posição fora da imaginação evolucionária na qual se configura o pensamento ocidental com seu messianismo iluminista lhe permite acionar outras imaginações, propor outros sistemas de relação linguagem/mundo, outras ontologias;
sua posição estratégica permite acionar diversas máquinas de guerra que não estavam previstas no programa autoreferenciado dos aparelhos de estado;

daí a importância do mito como ordem autônoma a reivindicar a autoridade que havia sido atribuída por nossa ordem de estado à história;
o método histórico se configura a partir dessa autoridade, da história como aparelho de captura matriz;

o modelo da consciência está assentado na concepção representacionista, que propõe um concepção de linguagem nominalista, pressupondo um mundo pré-existente e pré-significado, ou seja, pré-valorado;
esse mundo pré-definido será recoberto pelo sentido da linguagem, seria a condição da linguagem sendo a condição do próprio sentido;
a idéia de uma arbitrariedade dos signos conduz à problematização de tal concepção, visto que já lida com a dinâmica de uma produção do sentido;
o sentido aqui não emana das coisas, não há relação de motivação entre palavras e coisas;
nessa concepção da linguagem os valores são subtraídos, constituindo-se a linguagem como campo harmônico da integração humana com a natureza;
dessa imagem da linguagem descende uma imagem da ciência como tradutora do livro da natureza;
segundo essa imagem da ciência a linguagem permite decifrar a ordem da natureza, possibilita sua descrição;
essa imagem do conhecimento ainda hoje compõe o imaginário de grande porção de nossos professores de ciências;
a idéia de decifrar verdades do universo natural via processo investigativo guarda inclusive empatia com os procedimentos metodológicos herdados da tradição investigativa que remonta aos antigos tribunais inquisitórios, nascedouro da ciência moderna;

19 novembro 2007

a consciência possui a tendência a se absolutizar;
não se pode imaginar seus limites, mesmo o inconsciente freudiano consiste numa forma disfarçada de consciência, num subconsciente como se dizia;
a consciência consiste numa faca só lâmina;
tende a tomar todo o espaço, suprimindo qualquer possibilidade de ir além dela;
é assim que nos imaginamos, a imagem que fazemos do sujeito está moldada por essa configuração da consciência;
tudo o que vai além da consciência é suprimido;
estamos mais e mais alienados nessa dimensão que denominamos consciência;
mesmo as imagens que fazemos de outras paisagens mentais, tais como deus ou a sociedade, se constituem a partir dessa forma/modelo da consciência;
nossa consciência possui como chave a identidade;
a sua forma de conceber realidade, sua imaginação se constitui na matriz da identidade;
todas essas consciências se unificam, ou melhor, são formatadas em torno de uma unidade;
nossas pequenas consciências humanas possuem a exclusividade da agência imaginativa;
a consciência se restringe aos limites da humanidade e tudo que vai para além desses limites está sob a vigília do verdadeiro;
mesmo essa humanidade consiste num humanidade média, em tudo aquilo que é comum à humanidade média;
o que está além do configurado pelos valores constituídos não possui status de verdadeiro;
verdadeiro consiste em tudo aquilo que condiz com a imaginação da consciência e, portanto, com os valores da consciência;
como essa imagem da consciência média é que é valorizada, nos vemos fazendo esforço para buscar essa coerência que acreditamos estar em algum lugar, pré-estabelecida, perdendo de vista que a constituição do sentido e dá arbitrariamente;
e assim nos deslocamos entre valores como na mais empírica realidade;
todo um mundo configurado de valores em que se opera uma inversão e se passa a estabelecer o mundo de valores como verdadeiro e a produção de realidades por devires e hecceidades (que consiste na forma de constituição de realidades) como falso, aparência, ilusório etc;
não se assume assim a produção de realidades a partir de valores, o que se assume como verdadeiro é uma determinada configuração da consciência como suposta realidade de fato;
toma-se assim um modelo como molde, ocultando-se o processo de construção de realidades a partir de valores;


criar - essa é a grande redenção do sofrimento, é o que torna a vida mais leve; mas para que o criador exista, são deveras necessários o sofrimento e muitas transformações;
sim, muitas mortes amargas deverá haver em vossa vida, ó criadores;
assim, sereis intercessores e justificadores de toda a transitoriedade;
(zaratustra)


lembrar o caráter pernicioso da compaixão;
trabalhar sem permitir que o fluxo de compaixão que perpassa os projetos e trabalhos sociais coordene nossas ações;
não estamos trabalhando por compaixão, por bondade;
nossa motivação é outra;
trabalhamos firmados no futuro, na morte do que é, fixados na transvaloração;
não trabalhamos para o passado, para a preservação de nada que morre;
o que está morrendo queremos antes ajudar a morrer;
tudo o que se passou até aqui foi para preparar a nossa chegada;
não há nada de errado com o homem do presente;
se há algo de errado é o apego e necessidade de se conservar, não querer passar, não querer morrer;
não trabalhamos nem mesmo motivados pelo presente, que nele ainda há algum ranço de passado;
a compaixão nos remete ao passado, à morte que se quer imortal;
temos os olhos fixos no futuro, nosso compromisso é com o futuro, nossa morte é uma forma de passar, de abrir caminho para o que vem;

estamos enredados em uma antropologia compassiva;
essa compaixão advém e conduz ao assistencialismo;
queremos preservar algo que acreditamos ser o outro, seu original, ainda que como objeto de estudo;
em nossas próprias expressões, especialmente aquelas em que se acredita descrever a realidade tal qual, ipses literis;
nossa obsessão pela identidade, nosso olhar moldado pela identidade nos conduz a buscar o mesmo, a identificar e fixar, a classificar;


aliança
minha aliança com a academia se dá num primeiro momento de forma ingênua, na qual ainda estava integrado ao seu conjunto de valores, quando ainda não possuia um instrumental mínimo que me permitisse desvenciliar-se del@;
intuitivamente já percebera os aparelhos em operação, ainda mais em meio a toda corrupção e assistencialismo do contexto guarani que nunca desvencilhei da cultura pela válvula de escape da aculturação;
assim, logo de início não me identifiquei com o personagem do pesquisador, pois meu devir guarani foi mais forte desde o início;
mais forte que tudo o que a academia foi me oferecendo em troca de minhas informações e de meus devires;
talvez meu projeto de estética existencial que me conduzira a tal aliança tenha sido mais forte;
tal projeto, junto com minha sensibilidade literária, conduziram-me rapidamente a consideração do tratamento das práticas de conhecimento indígenas tomadas a partir dos valores específicos do ocidentalismo;
queria desde o início produzir esse conhecimento, operar com suas práticas;
não me conformava em manter-me reduzido à produção de informação sobre esse conhecimento sem estar integrado a ele, produzindo-o;
não me satisfazia escrever sobre esse conhecimento, descreve-lo;
queria derrubar a quarta parede para devir esse conhecimento;
o xamanismo marcou meu encontro com os guarani;
assim, não era possível escrever sobre as práticas de conhecimento indígenas sem lidar com suas próprias práticas de conhecimento;
estudar o regime dos cantos guarani, a forma como se concebe o canto-dança entre o guarani que encontrei, com quem conversei, dancei e cantei entre tantas outras práticas de conhecimento que pude vivenciar, consistia na escrita de um outro texto que estaria encracavado no texto acadêmico;


toda minha experiência de pesquisa estava voltada para dar conta, narrar minha chegada na aldeia;
minha intenção de devir guarani era clara;
pensei que a pesquisa seria a forma de me manter próximo a eles para levar a cabo meu projeto tanto literário, como de estética existencial;
a aliança com a academia foi uma minha aliança primeira, que determinaria definitivamente meu olhar, inicialmente pela perspectiva da pesquisa, pelo olhar acadêmico e adiante por sua conversão numa contra-perspectiva, numa posição que consiste em afirmar a contraposição de perspectivas não como uma complementariedade dialética, e sim como procedimento de desmontagem dos aparelhos de captura do esquema de valores da cultura ocidental que tende a ocultar sua absolutização, que tende a excluir outros sistemas de valores, que tende a abolir a sua relativização por qualquer consideração de outros regimes morais e daí jurídicos, epistêmicos, políticos etc;
não se trata, portanto de uma postura crítica que tendesse a integrar dialeticamente ao mesmo;
trata-se, no caso da antropologia, de manter-se nas imediações, nas zonas limite da valoração e da subjetivação ocidentalista;
consiste mesmo numa inversão da função de aparelho de captura típica da antropologia;
aquele processo de inversão operado por nietzsche na genealogia da moral, visando conduzir a um pensamento que não reforçasse dialeticamente o moralismo ocidentalizante e sim que conduzisse a uma transvaloração generalizada do pensamento para se enfrentar os aparelhos de captura institucionais;
o trabalho dessa antropologia não se restringe ao reconhecimento de um pensamento selvagem, menos ainda de um pensamento selvagem pautado em nossos valores, e sim na sua utilização para a desmontagem dos aparelhos de captura homogeneizadores que operam o alinhamento valorativo pelo moralismo disfarçado em suas diversas caras institucionais;
aqui que se coloca a importância a operação com as máquinas de guerra que consistem na articulação de um pensamento selvagem virtual que pouco tem a ver com a atitude descritiva de um racionalismo indígena;
trata-se sim de ir buscar a forma do pensamento selvagem que seja um pensamento contra-estado;
portanto, essas máquinas de guerra ou esse pensamento selvagem contra-estado ao qual a antropologia ou a contra-antropologia ou a antropologia contra-estado, irá se aliar vai de encontro a atitude descritivista que caracteriza a atitude mais característica do pensamento de estado, o objetivismo racionalista;
por isso a necessidade desse pensamento sevagem contra-estado estar articulado a toda uma teoria dos enunciados, dos agenciamento enunciativos, do regimes de enunciação;
é essa a via percorrida por clastres para chegar a apropriação do pensamento selvagem virtual como máquina de guerra;
operar no contraste entre sistemas de pensamento, no conflito de procedimentos consiste na prática genealógica que não possibilita o isolamento em um único regime de valores e a proliferação de práticas de conhecimento e outras instituições a partir desse regime único e unicizante;



o modelo da consciência tem sido nosso ponto de concentração por ele formatar desde o paradigma da ação política ao das práticas de conhecimento;
o valor que se atribui em nosso mundo à consciência é tomado como que inconscientemente pelo outro;
inconscientemente por que esse outro geralmente imerge nos valores ocidentais e embarca na lógica da falta, deixando com isso de praticar o rico exercício de simetrização, ou seja, de ir buscar na sua cultura cada equivalente ao apreendido na cultura hegemônica;
à tendência ao absoluto da cultura ocidental, cujos valores estão ordenados para ofuscar outras formas das mesmas instituições, consiste no próprio aparelho de captura;
esse aparelho de captura retira o instrumento mais rico que é o limiar no qual o pensamento antropológico selvagem se coloca, limiar no qual ele está todo o tempo comparando, relacionando, diferenciando as culturas;
vejo que o que há de mais rico em minha experiência com os ashaninka consiste em sua antropologia;
sua forma de compreender o pensamento e lidar com o valores dos povos que os envolvem é admirável;
o unidimensional possui diversos instrumentos tais como a escola, a religião e, entre outros, um que deparo agora, a administração;
em todos eles a objetividade exacerbada serve aos valores específicos de nosso regime;
sempre essa objetividade operando com essa instância transcendente, essa natureza fechada e acabada com a qual a mente pode lidar na forma determinada pela razão;
tomar a noção de agência à partir de nosso instrumental de poder, jurídico, escolar etc consiste em não tomar a noção de agência levada às suas consequências de fato, levando em consideração o universo de valores que não o nosso, considerando noções de ação e apropriação de nossos aspectos e instrumentos de conquista e manutenção de poder;

agenciar esse outro universo de valores (esse universo de valores outro) consiste em considerar as diversas formas de apropriação de nossos instrumentos políticos;

manter-se na homogeneidade dos valores hegemônicos e seus pressupostos equivale a considerar a agência indígena apenas em seu caráter reativo, sem considerar a apropriação criativa e de resistência desses agentes e seus processos;
essa atitude é atribuída à própria constituição desses mesmos instrumentos de amansamento, que operam desterritorializando ou aniquilando ou desconsiderando esses sistemas de valores;
eles operam assim devido à mera consideração desses valores já legitima-los;
operar num campo de valores homogêneo (monocultura) consistiu na forma de dominação ociental por excelência como atestam nossas mais importantes instituições de conquista e (colonização) amansamento: religião cristã, sistema judiciário, o complexo escrita-escola-ciência etc todos organicamente coordenados;
é assim que tornamos o outro em simples reagente às nossas ações, nossas instituições, ou seja, imerso no universo contruído a partir de nossos valores;

são nossos aparelhos de captura e amansamento que operam com noções como consciência e sujeito fundamentadas em nossa moral, nos valores pressupostos por essas instituições, valores que visam a perpetuação dessas mesmas instituições, visto que opera exclusivamente no campo homogêneo de seus valores e pressupostos;

assim, na consideração da noção de agência indígena levando em conta sua cosmopraxis, o que se coloca é um complexo problema político e epistêmico que consiste inicialmente na desmontagem dos aparelhos de captura e amansamento a partir da consideração de universo de valores tornado homogêneo como parte de seu programa/projeto;
esses aparelhos estão arraigados em nossas práticas de conhecimento, definindo inclusive a consistência de tais práticas, o que elas significam, o que quer dizer conhecer;

as práticas de conhecimento tomadas a partir de nossos valores definem-se pelo reforço desses próprios valores e seus pressupostos;
nossas práticas de conhecimento tomadas de outra perspectiva, de outros universos valorativos ganharão outras versões;
enquanto conhecer para nós consiste num oroboros, num circuito fechado que conduz à legitimação de determinada configuração da realidade, sendo tanto essa realidade como sua configuração e os processos de manutenção dessa configuração instrumentos de nossa cosmopraxis;
absolutizar nossos valores através da homogeneização de uma realidade, de uma história, de uma natureza cuja regras de funcinamento se encontram em nosso poder, nisso consiste nosso mito;


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17 novembro 2007

a consciência possui tendência a se absolutizar, a não permitir que nada lhe escape, a ocupar todo espaço, à onisciência;
isso seja em termos individuais, pessoais, seja em relação ao coletivo ocidental, à cultura ocidental;
em termos individuais, isso se atualiza em nossa auto-imagem residual, em nosso ego;
em termos sociais, esse ego absoluto da consciência é atualizado pelas instituições em geral, como a história, o estado, a religião;
mesmo a imagem que fazemos de deus é a de uma super-consciência que tudo sabe (e nos oprime conhecendo nossos segredos íntimos), consciência absoluta que está inclusive dentro de nós a nos julgar e culpabilizar;

instrumentalizar a antropologia serve para relativizar essa máquina de absolutizar, esse aparelho de captura;
operar assim com as imagens dos limites da consciência absoluta que define nossa civilização;
pois pela consciência se institui uma forma de dominar, de reproduzir valores, de conservar poder
meu trabalho consiste em lidar, em manobrar com essa instância que tende ao ilimitado, que planeja se generalizar;
operar tangenciando os imperceptíveis;

a operação dessa consciência, que se imagina como todo perceptível, consiste em uma explicação que oculta a ação em que tal explicação consiste;
uma explicação que neutraliza seu caráter de ação, de produção, de criação, de valor;
explicação que se define como representação, constatação, observação, descrição etc;
ocultar o poder de ação da palavra;

a noção de discurso visa justamente acentuar o caráter ativo da palavra, desconstruindo assim o mito da palavra enquanto representação da realidade;
nessa ordem discursiva a palavra se caracteriza por seu poder de produção de realidade, produção de valores, produção de verdade;
a análise do discuro encaminhará portanto a desmontagem dos discursos que, com maior ou menor evidência, ocultam seu poder de instauração de valores absolutos, que ocultam sua ação;
esses discursos geralmente se apresentam como estrita representação de supostas realidades pré-determinadas e estabelecidas;
a partir desse representacionismo, desdobram uma concepção de linguagem e de sentido;

um dos campos mais fecundos para a análise dos discursos tem sido a história, definida por foucault como intensificador de poder;
até por ser a instituição e a disciplina que define até hoje a imagem do conhecimento e as metodologias das ciências humanas;
desde os textos clássicos de nietzsche, ela não mais deixou de consistir numa abertura para a reformulação da imagem do conhecimento representacionista e positivista;

outro campo fecundo será a teoria do conhecimento, com destaque para a epistemologia, para o debate entre ciências humanas e ciências naturais e seus princípios;
destaca-se aqui a noção de natureza como concepção de base para a ciência e o pensamento ocidentais, pautados na consciência e no representacionismo;

outro campo fecundo para a análise do discurso, tratando-se de absolutização de valores na produção de conhecimento, será a antropologia;
o interesse sobre a antropologia consiste em que ela não só nos instrumentaliza sobre os processos de amansamento próprios de nossas estratégias de homogeneização e etnocídios;
ela interessa especialmente aqui por nos disponibilizar, por nos abrir os horizontes, por nos colocar em contato com os universos afetivos que absorveram e absorvem os impactos de nossos aparelhos de captura;
toda uma história afetiva da diferença se disponibiliza para ser escrita, uma literatura antropológica da resistência que enxergue para além das identidades, das categorizações, e cartografe intensidades no corpo da suposta homogeneidade ocidentalizante (ocidentalidade homogeneizante);
conceber a diferença na reação de cada povo, de cada grupo, consiste na primeira grande quebra com a generalidade das reações (aculturação), que remete por sua vez à própria generalidade da expressão 'índios', primeiro aparelho de captura lançado sobre os selvagens;
de fato o discurso dos direitos é o que vigora;
direito à educação, direito à saúde, direito aos direitos etc é esse o horizonte dos civilizado(re)s;
a ordem do estado se configura de modo a privar as pessoas de autonomia;
chamamos isso de civilização;
o que o estado considera como benefícios consiste na forma de as pessoas se subordinarem às suas facilidades, a forma de se vender ao estado, de reforçar o seu poder em troca de benefícios próprios;

por estar do outro lado, por me colocar na resistência a essa civilização, por essa civilização definir-se como sinônimo da extinção do modo de vida, da autonomia dos povos nativos, concebo de uma outra perspectiva seja do direito mesmo, seja do discurso que se faz sobre sua necessidade;

não que não trabalhemos tendo por horizonte esse campo de ação que é o estado e os direitos que ele nos propõe em troca de legitimarmos seu poder;
a questão é que, a partir das experiências com/do estado e a especificidade de sua função (mais que embuste do discurso democrático da igualdade e da representação), buscamos ter a medida do preço desses benefícios oferecidos por ele, buscando assim não nos confundirmos com ele, mantendo uma saudável (para nós) relação de alteridade em relação a ele;

as facilidades introduzidas pelo estado na vida das pessoas repercutem em modificações que a longo prazo reorganizam toda a comunidade;
o estado opera de modo a tornar-se o eixo ou a definir o eixo da dinâmica do poder das comunidades através de seus representantes;

não considero que se trate de uma questão de conscientização, de educação das classes populares;
os próprios processos de conscientização e a educação consistem em aparelhos de estado que visam a conformar os valores da consciência;
a própria consciência como valor supremo consiste em algo a se olhar com certa desconfiança;

o estado tende a se apropriar, a capturar as máquinas que atravessam seus aparelhos;
apropria-se da retórica da consciência, aparelho de captura que mesmo o precede ao constituir-se no equipamento central do modelo místico da psicologia judaico-cristã;

também não acredito na conscientização das classes de técnicos, que elas possam transformar sua forma de conceber seus clientes, pois a aparelhagem a transcende e ela mesma consiste numa dimensão do processo;

há aí um processo histórico que define há muito a relação entre o estado e os súditos;
o estado se configura, especialmente seu judiciário, numa continuidade das estruturas de poder da colônia;
há uma relação de súdito com o poder constituído;

o problema dos valores se evidencia na forma autoritária dos técnicos de estado discursarem;
seus pressupostos sem fundamento, seus dogmas etc tendem a se desmontar quando são circunscritos numa cultura, história ou tradição, quando são despertados de seu absoluto para o relativo e histórico de sua condição, da condição de seus valores;

pode interessar aqui voltar ao curto circuito proposto por latour em jamais fomos modernos entre a noção de representação de nossa semiótica realista e positiva que configura nossa matriz epistêmica e a noção de representação que pressupõe nosso regime democrático de distribuição do poder do estado;
o intelectual de estado
ao intelectual de estado em mim, ao intelectual em todos nós;
todos somos ou temos algo de intelectuais de estado;
o intelectual de estado geralmente mas não necessariamente se coloca a serviço do estado;
ele opera em todos os meios;
o estado com sua arte de homogeneizar planos faz do intelectual de estado uma sua continuidade, coloca o intelectual de estado a seu serviço;
o intelectual de estado faz dos valores do estado, seus valores também, dos projetos do estado, seus projetos também;
dificilmente não se incorpora os valores do estado quando se está a seu serviço;

o regime de signos deixa de estar determinado pela instância transcendente, pelo plano objetivo e a objetividade constituída como representação;
a objetividade que pressupõe a substância, o plano de transcendência, instância que ofusca o caráter constituinte dos valores na elaboração dessa dimensão;
quanto se passa por uma crítica dos valores, quando essa dimensão transcendente passa por uma crítica sistemática com a problematização do caráter valorativo da história e do conhecimento, a relação do linguagem com o universo referencial ganha novas dimensões;

sentidos em si
num sistema de oposições na há sentido em si, ou melhor, que seja projetado de um plano de transcendência;
o sentido é imanente ao sistema de signos que se contrapõem para possibilitar a constituição do sentido;
desvincula-se assim uma determinação entre o sentido e aquilo que é tomado como seu referente;
a relação de representação é problematizada e a esfera de sentido passa a ser considerada como instância criadora de sentido e realidade;
essa é a contribuição da lingüística;
as coisas não se configuram então a partir de uma identidade consigo mesmas, a partir de uma essência;
elas passam a dividir sentidos, seus sentidos não se dão por distinção, os sentidos são como fios que interpenetram diversos sentidos e não blocos indivisíveis;
a palavra terra/céu está associada a outras palavras num campo semântico;
ela não faz sentido fora desse campo semântico;
esse campo semântico opera intensivamente;
portanto, o sentido ou a definição de algo não se dá de forma descritiva, extensivamente;
há uma dobra no plano do sentido, no plano de imanência;
não sei algo por sua relação consigo mesmo, absolutamente, fora de um campo de valores determinado por seus campos de força e sistema gravitacional;
o estruturalismo rompe essa forma descritivista que absolutiza, etnocentricamente, um campo de valores;
ele se constitui no momento da problematização desses universos de valores, do projeto ocidental de civilizar o mundo;
descrição e representação sustentam um universo de valores enquanto instância transcendente;
a idéia de natureza se sustenta não só como instância transcendente, ela sustenta um regime de signos;
em lugar de descrição e representação, uma forma de pensamento como prática de liberdade, como constituição de valores, como devir (relativizando o natural);

15 novembro 2007


onisciência ocidental
a consciência possui tendência a se absolutizar, a não permitir que nada lhe escape, a ocupar todo espaço, à onisciência;
isso seja em termos individuais, pessoais, seja em relação ao coletivo ocidental, à cultura ocidental;
em termos individuais, isso se atualiza em nossa auto-imagem residual, em nosso ego;
em termos sociais, esse ego absoluto da consciência é atualizado pelas instituições em geral, como a história, o estado, a religião;
mesmo a imagem que fazemos de deus é a de uma super-consciência que tudo sabe (e nos oprime conhecendo nossos segredos íntimos), consciência absoluta que está inclusive dentro de nós a nos julgar e culpabilizar;

instrumentalizar a antropologia serve para relativizar essa máquina de absolutizar, esse aparelho de captura;
operar assim com as imagens dos limites da consciência absoluta que define nossa civilização;
pois pela consciência se institui uma forma de dominar, de reproduzir valores, de conservar poder
meu trabalho consiste em lidar, em manobrar com essa instância que tende ao ilimitado, que planeja se generalizar;
operar tangenciando os imperceptíveis;

a operação dessa consciência, que se imagina como todo perceptível, consiste em uma explicação que oculta a ação em que tal explicação consiste;
uma explicação que neutraliza seu caráter de ação, de produção, de criação, de valor;
explicação que se define como representação, constatação, observação, descrição etc;
ocultar o poder de ação da palavra;

a noção de discurso visa justamente acentuar o caráter ativo da palavra, desconstruindo assim o mito da palavra enquanto representação da realidade;
nessa ordem discursiva a palavra se caracteriza por seu poder de produção de realidade, produção de valores, produção de verdade;
a análise do discuro encaminhará portanto a desmontagem dos discursos que, com maior ou menor evidência, ocultam seu poder de instauração de valores absolutos, que ocultam sua ação;
esses discursos geralmente se apresentam como estrita representação de supostas realidades pré-determinadas e estabelecidas;
a partir desse representacionismo, desdobram uma concepção de linguagem e de sentido;

um dos campos mais fecundos para a análise dos discursos tem sido a história, definida por foucault como intensificador de poder;
até por ser a instituição e a disciplina que define até hoje a imagem do conhecimento e as metodologias das ciências humanas;
desde os textos clássicos de nietzsche, ela não mais deixou de consistir numa abertura para a reformulação da imagem do conhecimento representacionista e positivista;

outro campo fecundo será a teoria do conhecimento, com destaque para a epistemologia, para o debate entre ciências humanas e ciências naturais e seus princípios;
destaca-se aqui a noção de natureza como concepção de base para a ciência e o pensamento ocidentais, pautados na consciência e no representacionismo;

outro campo fecundo para a análise do discurso, tratando-se de absolutização de valores na produção de conhecimento, será a antropologia;
o interesse sobre a antropologia consiste em que ela não só nos instrumentaliza sobre os processos de amansamento próprios de nossas estratégias de homogeneização e etnocídios;
ela interessa especialmente aqui por nos disponibilizar, por nos abrir os horizontes, por nos colocar em contato com os universos afetivos que absorveram e absorvem os impactos de nossos aparelhos de captura;
toda uma história afetiva da diferença se disponibiliza para ser escrita, uma literatura antropológica da resistência que enxergue para além das identidades, das categorizações, e cartografe intensidades no corpo da suposta homogeneidade ocidentalizante (ocidentalidade homogeneizante);
conceber a diferença na reação de cada povo, de cada grupo, consiste na primeira grande quebra com a generalidade das reações (aculturação), que remete por sua vez à própria generalidade da expressão 'índios', primeiro aparelho de captura lançado sobre os selvagens;




05 novembro 2007

conscientia
saltaremos então para a ética iluminista e seu otimismo pedagógico da cura pela razão;
passamos por kant e o imperativo categórico, sua tentativa de libertar o homem pelo desejo do bem racionalizado ou pela racionalização do desejo do bem, insistindo em colocar os valores como fim e não investigando seu sentido como a priori, ou mesmo como pressuposto;
de kant a hegel e ao problema das vontades: vontade subjetiva e vontade objetiva, um primeiro esboço de inconsciente (um dos nomes do desejo a partir dos valores da consciência) coletivo;
hegel deslocou o problema equivocadamente perseguido por décadas da doutrinação a vontade individua através da consciência, para o problema de vontades coletivas, de nações inteiras (pois era uma preocupação de sua época, como educar nações, como formar nações e educa-las);
a imagem do homem como consciência individual se deforma e transforma;
a cultura e a história se constituem como ciências com funções específicas nessa nova imagem do homem;
a história mostrava que os tempos se transformam e essa arma na mão do estado forneceu o método para as demais técnicas de controle social;
o que se combate a partir de agora não é mais apenas a vontade subjetiva e individua que a igreja cuidara tão bem;
os aparelhos de captura e controle social como a saúde ou a educação surgirão para conduzir coletivos, daí a idéia de sociedade como massa homogênea de pessoas de mesma cultura;
de fato, toda uma revolução no mercado do pensamento ou na apropriação do pensamento como aparelho de estado a partir de hegel;
a partir de hegel os valores passam (agora teoricamente) a mais imprtante instituição do estado;
toda a educação pode ser pensada a partir daí de uma forma muito diversa daquela positivista que toma o iluminismo como marco inicial;
daí certamente a revelação em negativo que foucault fará da modernidade para se articular no âmbito dos (e dar a entender seus dispositivos) aparelhos de controle social;

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conscientia
venho acompanhando desde meus cursos de ética, seja para extrativistas ou para bacharéis em direito, a constituição da consciência no ocidente e os problemas dos valores;
devido ao meu campo de pesquisa, tenho trabalhado muito sobre os pressupostos morais de nossa epistême, principalmente voltado aos desdobramento da antropologia;
começamos por separar ética de moral, depois traçamos a constituição da ética como princípio da filosofia, o problema da consciência como problema da filosofia socrático-platônica, a imagem do conhecimento aristotélico a partir da consciência, a filosofia e a política;
depois passamos pela crise da democracia grega e o período do império romano;
partimos para os valores cristãos, que colocam de volta o problema mítico aos valores da razão gregos;
veremos aqui vigorarem ainda mais radicalmente os valores da consciência e do espírito em detrimento do corpo e dos desejos;
não estudamos as teorias do desejo nesse período, o que é agora uma boa idéia, mas o quadro de valores que se coloca é o do dever, o esquema da culpa e do arrependimento redentor;


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ailton krenakaliança com a floresta
a ruptura da aliança consistiu na identificação dos seringueiros com esse grande espírito da civilização;
a política partidária que está enrolando a todos, acredito tratar-se a algo mais amplo tal como esse aparelho de estado que foi criado para administrar essa política liberal, para o mercado;
eles tiveram a chance de saltar fora desse bonde, talvez estejam tendo novamente, talvez nunca deixaram de tê-lo, até por se tratar de uma aliança de parentes, uma aliança, de saltar fora do bonde da civilização, mas o que se vê é uma gente massacrada que não sabe nem o que é civilização, que acredita que a civilização é o que de melhor lhes pode acontecer, que não vê perspectiva fora de um emprego e uma aposentadoria, uma mente que é o reflexo de nossas mentes brilhantes no governo e na academia, tudo uma grande identidade ao modelo de civilização;
ninguém quer ser bicho, todo mundo quer ser gente, como na televisão;
a gente mesmo, eu mesmo, para chegar onde cheguei precisei ir ao limite da civilização para desmistifica-la;

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estudantes apresentam pesquisa sobre pinturas corporais monocultura
estabelecidas as escolas, os aparelhos de captura passam a trabalhar seu processo apropriação de características locais,
esse procedimento se disfarça de auto-critica referente a seu modelo homogeneizador próprio dos aparelhos, tal como fazia a própria igreja quando permitia a sobrevivência de elementos da cultura;
no entanto, acaba se tornando o próprio aperfeiçoamento dessa homogeneização promovida pelos aparelhos de captura;
passa a ser uma homogeneização com tempero local, para isso serve o grande modelo da consciência que serve para instalar o grande hospedeiro;
nenhuma crítica radical à escola, a esse modelo de civilização;
ninguém parece querer abrir mão desse modelo falido de civilização, parece que todos acreditam impiedosamente que não há saída;
não vejo que esse seja o espírito do meu trabalho;
vejo que ali não se acredita, não se dá status de realidade para esse grande monstro que funga em nossas costas;
agora vejo tantos espíritos que estão tão arraigados nessa civilização, impregnados de seu espírito que se torna difícil inclusive imaginar algo diferente;
acredito que a imaginação só funciona a partir de um certo ponto quando operamos modificações/transformações/mudanças em nossas próprias vidas, em nossas opções cotidianas, as mínimas opções que penetram a dimensão do desejo, não suprimir desejos pela floresta, por uma consciência ecológica, e sim desejar outra coisa, outro lugar, outras relações, outras vidas;
enquanto eu estiver preso à minha vida, identificado a minha consciência não poderei devir;

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sistema de crueldade
quem pode afirmar um sistema de crueldade se todos queremos facilitar nossas vidas e as vidas dos outros, se nos pegamos até à alma nesse modelo capenga de civilização como a mais sofisticada das civilizações;
concordo em atribuir a mal taumaturgo o último lugar em desenvolvimento humano;
isso prova que ela cumpre com uma importante função: esclarecer aos seus qual a sua função;
não vejo nada fora do lugar até aí;
também a função dos intelectuais e do governo cumpre sua função de mapear onde está o problema que foge de nosso controle, de nossos aparelhos de captura;
quem pode ver que quanto mais mapeamos mais integramos essas populações a esse modelo, e não podemos ver que não há saída para essa civilização, pra tudo isso que imaginamos a partir dessa civilização;
só haverá alguma saída para o que for imaginado de fora dessa nossa bolha de vidro, dessa mônada em que consiste nossa identidade;
queremos coloca-las no mapa, queremos que elas sejam um modelo aqui fora para a civilização, não queremos que a civilização veja seus banheiros, suas fossas, seu idioma, seus modos etc;
não queremos sob hipótese alguma que eles sejam contra o estado, queremos que eles sejam bons cidadãos, civilizados, que paguem seus impostos, afinal eles já não são mais brabos, já foram amansados pelos patrões;
tudo menos volta-los contra o estado, contra a civilização, são eles bons meninos e assim seguimos doutrinando eles;
uma coisa é certa, o governo não vai deixar de ser governo, ele não quer deixar de ser governo etc
aliás, voltemos ao começo, quem é o governo, quem é você e quem sou eu...
pra que serve o governo... não... não na teoria, digo pra que ele serviu até agora...
civilização e barbárie
de fato o governo está investindo na restauração e vai investir mais, vai concentrar-se nas aglomerações, vai tornar insuportável, ou pior, vai melhorar a vida dos que estão no centro também;
essa parece uma idéia interessante por sua contraditoriedade;
como manter a forma de viver sem as facilidades, que facilidades são essas e quais são os seus custos;
no entanto, sem romper com o modelo civilizacional isso se torna pura demagogia;
queremos que as suas vidas melhorem, mas por mais que elas melhorem a curto prazo (luz, escola, salário, hospital) ela piora a longo prazo (poluição, violência e assassinatos, homogeneização cultural);
e ainda ficamos beirando o discurso assistencialista o que é uma lástima;
parece essa lógica do assistencialismo, uma velha forma de captura com os nativos da terra, nossos velhos espelhinhos (consciência) ainda funcionam;
damos o que eles querem e, junto, vai o que não querem;
quem não quer o que é bom;
o que é bom...
dar o que as pessoas querem, o que nós queremos para elas;
como se dá uma operação, uma transformação, uma educação, uma modificação do querer...
queremos coloca-las cada vez mais dentro do mapa, cada vez mais envolvidas em nossos programas em nossos projetos, da mesma forma (de uma certa forma) que a prefeitura de mal taumaturgo;
agora o que é interessante que ela funciona como uma grande escola de civilidade para a população de toda a região, para isso o município é uma sede, para procriar seu modelo pernicioso de civilização;


assistencialismo
dar dinheiro para preservação, isso parece tentativa de inverter as máquinas de guerra, pois até agora o que o mercado coroa, pra quem ele paga é pra quem desmata, é toda uma estrutura mega, que a gente chama de modelo de desenvolvimento que massacra há centenas de anos a vida me todas as suas formas, com a promoção do sofrimento generalizado;
quem acredita que agora vão pagar para recuperar, isso pode operar como um tipo de parte maldita do capitalismo, mas na realidade é mais um mercado que vai sustentar gente investindo no sistema insustentável;
acredito mesmo é na luta e na dificuldade, na falta de perspectivas, quando pudermos ver que a saída está aí, em não entrarmos nos aparelhos de captura ou entrar para sabotar, vejo que estaremos mais impermeáveis aos discursos fáceis dos bons moços do estado, da universidade ou das ongs;
no entanto, o que move a resistência aos aparelhos de captura, se no discurso dos direitos do legislador esses aparelhos aparecem como um fim em si, segundo a velha retórica assistencialista;


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MADEIRA, OURO E COCAÍNA NO PARALELO 10
José Carlos dos Reis Meirelles
Tenho a impressão que escolheram o nosso pessoal da Frente Envira como alvo de tiro para iniciantes. Algum grupo de índios isolados -pouco provável- conseguiu roubar armas e munição e vem testando na gente a "novidade", ou, o que é pior, a mando de madeireiros, índios não vão mais nos dar folga.
Atiraram no nosso mateiro, o Jaboti. O chumbo, desta vez, acertou suas costas, ao contrário do tiro no Beré. Mas, felizmente, o cartucho devia estar molhado e o chumbo entrou só no couro grosso de Jaboti.
Acho que o nosso estoque de sorte está esgotando. No Beré, foi o tronco do paco-paco salvador. No Jaboti, o cartucho ruim, velho ou molhado. Uma hora o cartucho estará bom e a mira certa. É uma questão de treino dos atiradores.
E eu fico pensando na realidade do nosso serviço público. Não posso contratar meus mateiros. Tenho que pagá-los contra-recibo. O cara ganha a mixaria de R$ 500,00 por mês. Está longe da família, defedendo o território dos isolados. Esse mateiro dá resultado, pois defende o meio ambiente de fato. Esses homens mereciam um tratamento melhor do Estado.
Sabe o que a Funai fez com o cargo de mateiro? Extingiu de seus quadros. Afinal, pra que gente em campo? Pra defender o meio ambiente, os indios? Tem que ter, ao contrário, é um monte de assessores ganhando fortunas, cagando regras.
Um bando de técnicos em computação monitorando a desgraça via satélite, aviões e helicópteros, mas que só servem para constatar quando o estrago já foi feito. Para prevenção, para gente que leva tiro para defender a floresta, nada pode. E quando se pede um suprimento para pagar os mateiros a Funai fica frescando, dizendo que não pode, que isso e que aquilo.Paciência tem limite e o couro dos mateiros não é de ferro.
Não seria melhor entregar ao Peru esta parte do território brasileiro esquecida pelo Estado brasileiro? Os madeireiros vão ficar felizes e explorarão toda a madeira que há, os traficantes plantarão grandes roçados de coca, algum garimpeiro poluirá de mercúrio as águas do Envira a procura de ouro.
O burocrata terá mesa e cadeira de mogno prá sentar sua bunda e olhar a telinha de seu notebook. Vai ter muita cocaína nos embalos das boates de Brasília com as peruas de silicone balançando seus anéis e braceletes de ouro. Tudo made in paralelo 10.
◙ O sertanista José Carlos dos Reis Meirelles é funcionário da Funai e chefia a Frente de Proteção Etno-Ambiental do Rio Envira, na fronteira do Brasil com o Peru; fonte: blog do altino

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03 novembro 2007

essa subjetivação encontra agenciamentos de enunciação próprios em sua ritualidade, cuja característica que vimos marcando é a de uma dinâmica dos devires em contraste com o regime de signos da representação;
nessa ritualidade, analisamos sua atualização nos regimes enunciativos dos cantos, que operam com o perspectivismo ou o agenciamento de perspectivas outras como animais ou demoníacas, ou mesmo no caráter extático da dança coordenada ao canto, ou ainda no uso do tabaco coordenado a ambos; todo esse instrumental enunciativo caracteriza, coordenado a outras práticas como a mitologia, o paradigma operativo do xamanismo; esse modelo operativo do xamanismo, denominado de perspectivismo, coordena epistemologia e psicologia, num contraponto à objetividade e à subjetividade ocidentais; a noção de família reduzimos a noção de família ao núcleo familiar, ao triângulo edípico, à noção de descendência; a família cósmica, a sociocosmologia indígena, seria o corpo-sem-órgãos dos relacionamentos, a distinção intensiva e não extensiva; fazemos, com o uso extensivo da família um recorte que tem outros desdobramentos; o nomadismo mantém discreto o recorte em torno do núcleo, a sedentariedade se concentra sobre o núcleo e a descendência, chegando por vezes a dissipá-lo, tamanha pressão que exerce mesmo nesse núcleo; a família indígena se estende para a aliança interespecífica com o não-humano; não é indistinta essa aliança, a inimizade é uma forma de aliança;