02 dezembro 2007

pensamento selvagem e ciência régia 2
por isso, mais uma vez, o caráter distinto da abordagem trágica, de uma genealogia dos valores que desdobra o plano ocultado dos valores num plano que se constitui de valores (no qual inclusive a antropologia se beneficiará para o estabelecimento de um discurso contra-filosófico da tradição histórico-transcendental que caracterizará, ou melhor, que chegará ao cume em sua aliança com o estado na elaboração de um complexo aparato de controle social, momento de definição da ciência régia para o contexto extra-estado-nações (globalização) coroando o projeto de ciência universal da mitologia renascentista;

nessa linha de fuga clastres constitui uma linguagem própria, centrada no perspectivismo como máquina de guerra selvagem, para lidar com o para-além-do-pensamento-selvagem;
a máquina de guerra exige um ninho de serpente próprio para vir à luz;
a linguagem de ciência régia faz a vez de palha ao ninho implantado nessa perigosa zona de interface de ontologias;
o índio se apropria do antropólogo e seus recursos (sua linguagem) e define sua antropologia das perspectivas;

clastres não entrega o pensamento a essa forma de consenso generalizado no interior do qual o pensamento selvagem amansado encontre lugar disponível ou de direito;
conhecimento não se trata de questão de direito (como tratou nietzsche e o foucault genealogista de a verdade e as formas jurídicas);
trata-se antes de questão de guerra;

nesse sentido, é interessante compreender como o conhecimento prático dos saberes da floresta concebidos no centro ashaninka yorenka ãtame vascila de uma posição de colaboração com o espírito de uma universidade da floresta (que remete antes a projetos colonizadores proliferados em diversas frentes, que à estrutura física e os projetos da universidade federal do acre - campus floresta, de cruzeiro do sul);
a universidade da floresta consiste num espírito de diversas direções que ganhou até então a melhor constituição no atual discurso ressentido dos órfãos de um suposto projeto original de universidade da floresta, elaborado como extensão de um suposto projeto idela de governo da floresta, que coincidentemente só vingou na idealidade projetiva;
tais órfãos se ressentem de que na realidade a universidade da floresta não consiste no que havia sido pensado;
mantém a estrutura tradicional da distribuição de poder acadêmico, respeitando exclusivemanete o circuito dos títulos acadêmicos, tendo se utilizado a retórica dos saberes populares para a captação de recursos políticos junto às vias legislativas do estado;
essa concepção de sabedoria popular desprovida do contexto das forças políticas faz dela um dispositivo do próprio estado, em que é utilizada para legitimar o poder do estado de reconhecer saberes, nõ concebendo e legitimando circuitos não-estatais de produção e circulação de saberes;
essa concepção mantém o conhecimento atrelado ao estado, girando em torno de um centro de referência, por constituir-se a partir de uma concepção positivista que cinde do conhecimento seu caráter de produção de realidade, de intervenção política, mantendo-o como formas de representar a realidade que devem ser preservadas seja por seu exotismo, seja por seu valor comercial;
numa abordagem de resistência por parte desse saber popular, essa perspectiva de estado, que se apóia no discurso dos direitos das políticas públicas, tende-se a manter uma posição de amansamento estatal que desvirtua o caráter de resistência dessas ciências populares, também denominadas ciências nômades;


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