19 julho 2007

contribuições para uma filosofia nativa

caros amigos

não me agrada nada colocar-me numa posição que pareça uma defesa de l-s e seu pensamento;

no entanto, como meu ofício de antropólogo é fazer os textos falarem, vou brincar um pouco de ventríloquo com o mestre francês;

quando conheci seu trabalho fiquei aturdido, revoltado: tornei-me decididamente um anti-levi-straussiano, e militante, ainda mais que não compreendia e já não gostava desse tal de estruturalismo com esse nome feio...

portanto, considero digamos necessário esse distanciamento, essa crítica do pensamento do antropólogo que nos prepara até podermos ter nas mão sua caixa de ferramentas;

não quero parecer dogmático (ainda que acredite que quem não torce para o meu time de autores esteja se enganando (rs)), os antropólogos tratam as escolas e referenciais teóricos como times de futebol, partidos políticos e, os mais fundamentalistas, como religião;

portanto, devir estruturalista ou não...

escrevi algumas anotações em meu caderninho esses dias para mandar para a lista de debate, mas não tive tempo de acaba-las;

vou retomar alguns trechos pois eles vem em tempo;

acredito que nessas anotações estava me referindo ao modo de ler antropologia, de ler os textos, de ler a realidade, o qual define meu modo de construí-la em meu trabalho;

falava então de um problema, digamos assim, antropológico: o relativo e o absoluto;

há um problema na antropologia: o relativismo;

defino grosseiramente o relativismo como o relativo tomado na perspectiva do absoluto;

no entanto, o que vale do relativo é justamente esse tomar na perspectiva;

escapar do relativismo consiste em fazer da perspectiva o problema;

não vou reproduzir todas as minhas anotações, não que ser mais chato, pregando o nietzschinismo em vossas orelhas wittgensteinianas, até por que já escrevi sobre isso no blog, na postagem...,

vamos ao que interessa: “insisto que devemos investir nossa atenção sobre o campo de sentido em que consideramos os textos, o perigo do positivismo está em sustentar esse suposto fundo de absoluto, a natureza, sobre o qual as idéias e os signos correm;

pode-se inclusive, como tanto se faz, afirmar o anti-positivismo de forma positiva já que o problema aqui não é o que se diz, e sim os pressupostos;

a própria genealogia, procedimento anti-positivista por excelência, pode ser positivista, se entendida absolutamente;

a genealogia não quer (e quer) substituir o positivismo, ela quer rir dele, gargalhar diante de sua seriedade reacionária, morrer de rir de sua prepotência;

ela não quer ser seu lado negro, negar o positivismo para erigir outra realidade igualmente positivada, e sim revelar o tom farsesco dessa prepotência, seu histrionismo;

gosto da fórmula afirmação não-positiva (blanchot) para esse pensamento;

temo não estar sendo claro por trabalhar com uma série de pressupostos de meu referencia teórico;

parece que toda tua leitura se compromete quando o que afirmas e o que fazes, a poiesis, são de naturezas distintas;

por um lado afirmas a bricolage em seu texto, mas é da boca pra fora, pois tua rigorosa análise do texto de levi-strauss condena-o a não obedecer às regras do engenheiro;

acontece que gosto de lê-lo como bricolage, fazendo, para tanto e inicialmente, uma relativização ou uma contextualização, digamos discursiva (ou seja, não histórica), desse pensamento;

para lê-lo como bricoleur (o que nos conduz na leitura de toda antropologia como bricoleur, o que nos conduz...) exige-se uma modificação na forma de ler, que se leia para além daquilo que está sendo dito, que se leia o que está sendo feito pelo autor enquanto escreve;

o problema de fato é esse que você coloca, suas palavras se assemelham mesmo a um caso de esquizo-análise, psico-terapêutica do conhecimento (pra não dizer da filosofia) elaborada por deleuze-guattari;

o problema da natureza dessa linha demarcatória entre espírito positivo e construcionismo, criatividade, literatura ou como queira;

dado isto, como faze-lo?


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