07 fevereiro 2007

a contraposição de discursos ou da hipocrisiahoje pude vislumbrar a estrutura do filme a rota do pacífico e, assim, apreciar sua dimensão sociológica;
é uma pena que alguns de nossos companheiros não captaram tal contraponto, ou que tal contraponto está para além de conflitos governamentais;
nossos limites são outros, nossas fronteiras são outras;
o que se tem na abertura do filme é um plano seqüência em que se sobe o rio chipamano, rio que faz a fronteira brasil-bolívia;
corta e viajamos por brasil, bolívia e peru perguntando para as pessoas sobre a integração entre esses países;
fala-se de política, de geopolítica, de economia, de cultura, experiências de fronteira etc;
as pessoas que falam são as pessoas que estão assistindo o filme: transeuntes, com exceção dos poucos especialistas;
seu discurso fala dos benefícios da integração, o discurso positivo da televisão, do governo, do mercado;
o terreno é bem preparado para o golpe que se dá no bloco de conclusão em que e apresenta a situação dos brasileiros que vivem na região de fronteira do lado boliviano;
brasileiros que vivem há trinta anos na bolívia, tem filhos maiores, constituíram famílias com bolivianos etc estão sendo expulsos violentamente das terras em que trabalharam durantes as últimas décadas;
expulsos de forma truculenta, estão sendo ameaçados e aterrorizados pela polícia boliviana e por capatazes das madeireiras multinacionais;
daí ao delírio final que fecha o filme;
essa é a estrutura política e discursiva do filme;
essa contraposição marca o conflito entre o modelo pacífico de se ver a integração: seu caráter econômico de mercado global, no qual todos parecem se beneficiar, um discurso oficial bancado pelo governo associado aos seus financiadores, versus a face obscura do modelo econômico imposto à região por interesses não tão coletivos;
a vida na cidade parece não conhecer bem o preço que está sendo pago para que esse sistema que se impõe, torne-se onipresente;
de um lado a concepção de fronteira, de política, de estado é uma, de outro sua vivência é outra;
que se veja: não se está dizendo quem está certo ou errado, não se está demonizando os bolivianos, nem vitimizando os extrativistas;
o que interessa é essa contraposição de realidades discursivas: vidas constituem discursos: a inocência com que um vive o processo atropela estórias de vida de pessoas marcadas por um processo similar de expulsão;
dessa forma, com os depoimentos do seringueiros que se vêem ser expulsos de suas terras e de suas famílias, para situações incertas nas periferias das cidades, dessa forma violenta, desconstrói-se o discurso da política de globalização econômica em que não se precisa mais de passaporte para atravessar a fronteira mostra uma outra cara;
não é o caso, igualmente, de demonizar evo morales ou jorge viana, é do processo que se está tratando, processo do qual eles são personagens;o processo, pelo qual somos certamente responsáveis, se deixa apreender em sua contraditória insensibilidade, visto que o caso dos extrativistas de fronteira compõem personagens que se projetam nos diversos grupos que pontuam o filme;

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